Olá, querido.
Estranho receber esta carta, não? Cartas soam como despedida, como adeus, ou trazem novidades. Esta une tudo.
Sonhei que um amigo me ligou e disse que você havia partido de volta pra Dinamarca. “Ele foi embora. Voltou pra Dinamarca e voltará em dois meses”, disse ele.
Entrei em desespero e me questionava como você havia ido embora sem ao menos se despedir, fazer uma ligação. Dois meses seria uma eternidade.
Corri para o seu prédio, mas o porteiro me avisara que você já tinha partido. Arrisquei a porta na faculdade, mas você já havia dado suas aulas e era tarde demais.
O frio dentro de mim foi tanto que ultrapassou meu sonho, gelou meu corpo e congelou meus lençóis. Naquele momento meus olhos estavam pressionados fortemente para se manter fechados. Acordar seria não saber o que havia acontecido.
Lembro-me que você me ligou, disse que não era verdade e que não tinha voltado pra Dinamarca. Que estava ocupado com coisas de trabalho, mas que ainda estava perto de mim. Apenas duas quadras.
Acordei naquele domingo gelado, cheio de chuva, querendo ouvir sua voz rouca, mesmo distante. Não o fiz. Não te liguei. Queria-te perto. Tinha-te longe. Mas o que era melhor? Ou pior?
É ruim não saber quando vou poder sentir você em meu pescoço. Sua cabeça cansada no meu colo. Seu cabelo na minha mão. Sua vida na minha.
Minha vontade era te ligar naquele domingo feio e ir te encontrar, mas depois de um tempo achei melhor não ligar, não aparecer, e quem sabe fazer você desaparecer da minha vida. Pra quê?
A estrada ficou imensa, o caminho sem fim. Aquele domingo gelado terminou frio. Frio como na Dinamarca. Frio como eu gostaria de sentir você dentro de mim, mas tudo fervilha dentro do meu peito.
Agora penso se a melhor escolha não é te ter na Dinamarca. Se não é melhor não acordar daquele sonho ruim e pensar que longe é onde você está. Assim, tudo fica mais fácil e compreensível pra mim. Seria essa a solução pra nossa distância. É ruim esperar por você, rezar para o telefone tocar, ou para você me atender. Sonhar todas as noites com sua presença. Sentir falta do seu cheiro, do seu toque, do seu gosto.
Ruim saber que passamos a amar momentos que podem ser únicos e unitários, não? Por isso, estar com você sempre foi intenso. Agora intensifico esse momento com essa carta, ao menos não são momentos que vivemos, e sim letras escritas. Eternizo aqui minha vontade de te ter, mas não sei se perto ou longe. Endereço essa carta pra sua casa na Dinamarca porque é lá que eu espero que você esteja. Longe, longe do meu coração...
Um beijo,
Eu.
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