segunda-feira, 11 de julho de 2011

À sombra de Ipês

Deve ser frio aí.
Acredito que seja meio úmido.
Não sei se você ouve sons,
Se você acompanha as notícias.
Não tenho informações se tem sinal de Blackberry.

Será que você come aí? Tem água? Suco?
Vinho eu sei que não tem.
Se tiver macarrão a bolonhesa, peça.

Hoje fez sol, sabia?
Acho que daí você não vê a cor do dia.
O dólar caiu.
A Dilma ainda está no Palácio do Planalto.
Palocci caiu.
Eu continuo trabalhando de segunda à sexta.
Lula não tem um dedo, ainda.

Levou seu iPod consigo?
Tem música? Escuta alguma?
E os vizinhos, dá pra ver suas casas?
A vida aqui segue em frente.

Quando seu nariz coça, você consegue coçá-lo?
Tem espaço para mover os braços?
Acredito que você não troque mais de roupa,
Que seu cabelo esteja comprido,
Que sua voz continue rouca, mas menos ativa.

Não pretendia te atrofiar inteiro,
Te juro.
Não quis te enclausurar num buraco pequeno,
E não programei que ele fosse tão baixo,
Tão embaixo.

Espero que um dia você me desculpe
Por te enterrar vivo.
Mas, acredite, é melhor você viver morto,
Do que se fingir de vivo.

Transformer(-se)

E minha cabeça aprendeu a ser pragmática,
Ao ponto de se perguntar de minuto em minuto:
"Como podem os Autobots serem tão sentimentais?".