terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Me beija?

Eu moro, tipo assim, na esquina do seu coração.
Assim, meio de lado, no canto, esquecida na esquina
Ouvindo as buzinas, cheirando a fumaça dos caminhões,
Embaixo de um toldo que me protege das chuvas.
Eu morro assim, na esquina mais barulhenta
E “borbulhenta” de todo o planeta.
Moro na esquina mais importante do que
A esquina das avenidas Ipiranga e São João.
E é assim que eu levo a vida na esquina do seu coração,
No cantinho, meio sem ser vista, meio sem ser notada,
Meio sem ser chamada.
Moro aqui, na esquina do seu coração, com o
Pipoqueiro da esquina, que aquece o milho e me alimenta
Sempre quando seu coração esquenta.
Eu vivo na esquina do seu coração
Com o sorveteiro da esquina,
Que me refresca com vários sabores
Sempre que seu coração gela.
E assim, se de repente você lembrar de mim,
Quiser me ver, sentir saudades, quiser me beijar
Você pode ir ver se eu estou na esquina?

domingo, 9 de janeiro de 2011

Fogueira

Janeiro nunca foi tão frio,
Tão gelado.
Essa paisagem de neve combina bem, sabe?
É a tempestade de inverno que chegou,
Ninguém acreditou que ela viria,
E destruiria.
Azar de quem ficou na nevasca, como eu,
Presa dentre os enormes centímetros de neve.
Os ventos anunciaram o terror, o temor.
A neve fina que começou a cair do céu denso
Era a previsão de tudo,
Do silêncio que ficaria na cidade vazia,
Dos impedimentos para seguir adiante,
Do frio.
Mas era janeiro, e como isso iria acontecer?
Aconteceu.
E nada sobreviveu ao cenário branco puro,
Ao nada que tudo se transformou,
À falta de sentimentos.
A tempestade de neve impediu que eu alcançasse você,
Que eu tocasse em seu coração,
Mas janeiro faz muito sol, é verão, e o sol aquece tudo,
Até mesmo um pulmão congelado, um coração empedrado,
Um fígado gelado.
As estações mudam, o gelo vira água,
E a água volta a correr no rio.
Tudo muda o tempo todo.
Se hoje é inverno em janeiro,
Amanhã será verão em julho,
E eu tenho certeza que na próxima estação
Você vai sair dessa nevasca
E vai aproveitar todo o calor que eu guardei para você.

Decepção

E entre o que era para ser e o que eu quis que fosse, fiquei sem nada. (trecho de Um Caminho para Manhattan)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A dois

É difícil dizer que estou com fome agora
Porque é mentira.
Eu não tenho mais fome, já estou alimentada.
Eu já comi antes de voltar,
Antes de abrir a porta de casa,
Antes de estar aqui.
E eu não quero mais estar aqui,
Quero voltar para onde me alimentei,
Para onde comi,
Com quem comi,
Com quem acompanhou minha refeição.

Eu redescobri minhas cores,
Redescobri meus sentimentos,
E como me sinto em relação a eles.
Como me sinto diante do que sinto.

É como se a cada vez que o garfo mergulhava no prato
Eu soubesse mais quem eu sou.
Enquanto me alimentava eu tinha mais certezas
Do que eu quero, de onde quero estar

Eu já jantei, obrigada.
Jantei iluminada pelas minhas certezas,
Comi cada pedaço do que quero,
Mastiguei cada sentimento que não fará mais parte de mim,
Engoli as migalhas do que não sou mais,
E bebi vinho para incandescer meu coração.

Eu não estou mais com fome, não quero comer,
Não vou me sentar à mesa, não vou colocar o guardanapo no colo.
Pode jogar a comida no lixo, tire o prato da minha frente.
Eu já jantei, obrigada.
Eu já jantei muito bem acompanhada.