terça-feira, 22 de junho de 2010

Calculadora

Abri meu armário e um monte de casacos caiu sobre mim.

Parei, pensei, olhei para aquele monte e me perguntei:

Quantos casacos eu tenho?

Resolvi contar e deram 10 casacos de inverno, mais os de meia estação.

Depois, abri o outro armário e as botas caíram sobre meus pés.

Resolvi contar quantas botas eu tenho.

A conta deu 7 botas, incluindo as de cano baixo.

Depois, abri minha gaveta e estava abarrotada de Cds antigos.

Parei, olhei e me perguntei: Quantos Cds eu tenho?

Na soma total, 42 Cds.

Pouco tempo depois abri uma outra gaveta

Onde guardo documentos antigos.

Olhando aquele calhamaço de coisas e papeis

Me perguntei: Quantos documentos antigos eu guardo?

Depois de muito passar as folhas conclui que tenho

Cento e vinte e cinco documentos antigos guardados.

Andando um pouco mais pela casa achei minha

Coleção de chaveiros.

De todos os tipos, tamanhos, cidades do mundo.

Quantos chaveiros eu tenho? - me questionei.

São 356 chaveiros guardados.

Será que tenho tantas chaves assim?

Enfim, arrumando mais umas coisinhas aqui e outras ali

Encontrei meu álbum de papel de carta da minha infância.

Esse é para relembrar! Quantos será que eu tinha?

Definitivamente, eu amava isso porque eu tinha 298 papeis de carta.

Acho que era possível ter mais.

Ao lado desta pasta estava a pilha de Gibis que eu colecionei.

Uma pilha com 1.064 Gibis da Turma da Mônica.

É risada para mais de um ano todo!

Fiquei com sede e fui tomar um suco e abri o armário da cozinha

Que tinha muitos copos e não soube qual escolher.

Resolvi contar quantos eu tinha, e a conta deu 83 copos.

Dava para eu ter sede de todos os tamanhos e cores ao mesmo tempo.

Fui fazer uma pipoca de microondas e achei vários pacotes.

Quantos sabores será que tenho aqui? - foi a pergunta.

Eram seis sabores: Queijo, manteiga, bacon, manteiga light, natural e doce.

Optei pelo bacon porque estava num 'dia de gordinha'.

Depois da pipoca, fui lavar minhas mãos e não tinha sabonete na pia.

Abri o armário e fui pegar um novo, quando a pilha de sabonetes desabou.

“Meu Deus, quantos sabonetes eu guardo nesse armário?”, me perguntei.

Eram 21 sabonetes, todos de marcas diferentes, com cheiros diversos.

Alimentada, sem sede, com as mãos limpas, com as roupas, sapatos,

Documentos, Cds, gibis, chaveiros, sabonetes, copos, pipocas

E tudo mais organizado, abri minha caixa de correio

E peguei as cartas.

Ali no meio, uma carta sua. Depois de anos a fio sem notícias.

Uma série de palavras que me atualizavam de tudo.

Sem meias palavras.

Parei, li, olhei, li novamente, li mais uma vez

E me perguntei:

Quantas lágrimas já derramei por você?

E simplesmente estou aqui,

Semanas depois,

Ainda contando.

LOADING - 12/06/2010

Hoje eu chamei um técnico de computadores aqui em casa

Meu notebook havia travado, um erro fatal do Windows

Que impedia que qualquer coisa fosse processada no computador.

A solução seria um backup dos arquivos e a formatação na máquina.

Isso é assim:

A gente salva todos os arquivos do computador em outro computador,

Assim garantimos não perder nada importante,

Nenhuma foto, nenhuma música, nenhum documento,

Nenhuma informação, nenhum dado, nada.

Assim que tudo estiver são e salvo,

Acessamos uma área do computador em que

“Reparamos o sistema”.

Os problemas do Windows são corrigidos

Simplesmente porque ele é reiniciado.

Reset, restart.

Tudo apagado, tudo deixado para trás.

O computador recomeça do zero

Como se ele tivesse acabado de sair do fabricante,

Tivesse sido embalado no plástico bolha

E entregue pelos Correios na sua casa.

E assim aconteceu

O renascimento da minha máquina.

Mas dizem que os humanos são melhores que as máquinas,

Que fazemos as coisas melhores que os computadores

E então, como fazemos para reiniciar o nosso sistema?

Onde é o botão de formatação da nossa mente?

Onde apagamos os arquivos?

Onde fazemos o backup?

Quero começar de novo!

Tenho essa chance?

Mas quero optar pelo modo sem backup,

Posso?

Não quero salvar dados, nem arquivos, nem fotos, nem músicas.

Sei lá, considerei até jogar todo esse sistema fora

E comprar um novo, com mais memória e um HD melhor.

Vende na internet? Parcela no cartão? Tem desconto?

Será que algum técnico pode responder essas minhas perguntas?

É isso. Só queria me formatar, mudar mas sem me prender ao passado,

Começar de novo, do zero.

Sem memória, sem passado.

Sem chance de fazer errado, de novo.

Todo dia é dia de recomeçar,

Mas esse recomeço é sem reparo no sistema,

E aí não vale.

Ai... como eu queria ser um Sony Vaio.

Corrida (SEM)Aventura - 10/06/2010

Tem um esporte que além de nos ensinar sobre diversas coisas,

Nos ensina a nos orientar, a navegar.

É assim: você pega seu mapa,

Veja os pontos obrigatórios de passagem,

Traça a sua rota, a partir disso,

Escolhe seus caminhos.

Depois, você orienta o mapa,

Ou seja, aponta o mapa para o Norte

De acordo com uma bússola,

E vai!

Mas eu precisava aprender essas coisas

Antes de aprender sobre esse esporte,

Muito antes.

Precisava aprender na vida.

Orientar-se é sempre a melhor opção.

Traçar seu caminho,

Escolher sua rota,

Fazer seu percurso,

Andar mais rápido,

Correr,

Chegar na hora certa,

Vencer.

No esporte, você e mais três.

Um quarteto.

Na vida, eu e você.

Uma dupla.

Então, faça-me o favor de me orientar,

Porque seu mapa está desorientado,

Sua bússola está quebrada,

Seu senso de direção está confuso,

E eu estou perdida no meio desse mapa,

No meio deste caminho,

No meio desta floresta.

Para qual lado iremos?

Para onde eu devo ir?

De acordo com você, eu sigo para o Norte,

Para o Estado lá em cima, para perto do centro do mundo.

Para mim, quanto mais ao Sul, melhor.

Não que esse seja o melhor caminho,

E então, nos dividimos a partir de agora

Para caminhos opostos?

O mapa está na sua mão,

Os pontos obrigatórios de passagem estão no seu Race Book.

Eu estou apenas seguindo as instruções do navegador.

Para onde eu vou? Ou vamos?

A minha escolha é sempre estar perto de você

Seja no caminho certo,

Seja no caminho errado,

Seja em caminho algum,

Seja aqui parados.

Mas se for muito difícil para você orientar esse mapa

E nos dizer o que fazemos a partir de agora,

Se continuamos nessa prova

Ou se abandonamos a competição,

Eu posso escolher por nós e te dizer:

Vá seguir o seu Norte,

Vá ver a sua Aurora Boreal,

Enquanto eu sigo para o meu Sul

E vou ver a chuva no meu Cabo Horn

Todas e Ninguém - 03/06/2010

Eu já fui todas e já fui ninguém.

Já comi muito até passar mal,

Já passei mal por não comer.

Eu já cai, me machuquei, levantei,

Sangrei, estanquei o sangue, limpei o machucado,

Tirei a casquinha do machucado, fiquei com cicatriz,

Passei pomada para não deixar cicatriz.

Já fiz uma tatuagem, já fiz duas tatuagens,

Já fiz três tatuagens, já fiz seis tatuagens.

Já desisti de fazer tatuagem.

Eu já viajei para lugares inusitados,

Já planejei viagens, já senti saudade de viagens,

Já voltei correndo e antes do tempo de viagens.

Nunca fui para centenas de lugares que adoraria ir.

Eu já senti muito calor em temperatura acima de 49º,

Já usei casacos insuficientes para um frio negativo,

Já admirei as temperaturas amenas do outono.

Eu já fui um espermatozóide, um feto, um neném,

Um bebê, uma criança descabelada,

Uma criança chorona, uma criança diferente,

Uma adolescente, uma santa, uma virgem,

Uma puta, uma amante de alguém, uma noiva.

Nunca fui mãe nem gestante.

Já amei, já fui amada, já traí, já fui traída.

Eu já pensei que ia morrer naquele segundo,

Já me imaginei vivendo bem velhinha.

Já quis ter 5 filhos, já quis ter gêmeos,

Já quis não ter filhos.

Já tive cachorro, gato, peixe, pintinho.

Nunca tive um cavalo preto.

Eu já processei, já quis ser criminosa,

Já quis ser delegada, já mandei bandido para a cadeia.

Eu já quis ser biomédica, médica, psiquiatra, psicologa,

Socialite, engenheira civil, geneticista, pedreira,

Mestre de obras, advogada, promotora,

Atriz, modelo, cantora, celebridade de reality show,

Rainha de algum país pequeno e europeu,

Apresentadora de programa infantil,

Integrante dos Menudos.

Sou morena, já fui ruiva, morena do cabelo claro,

Morena do cabelo escuro, morena do cabelo preto.

Nunca fui loira,

Mas já cogitei a hipótese de ser para ser paquita.

Já chorei pela Xuxa, pelo Senna, pelos Mamonas Assassinas,

Pelo Santos Futebol Clube, pela minha mãe, por mim, por você.

Já chorei de rir, já chorei de raiva, já chorei de agonia,

Já chorei de dor, já chorei porque minha fralda estava suja,

Já chorei de alegria, já chorei de emoção,

Já abri a geladeira para chorar vendo as comidas.

Eu já cai de bêbada, já cai de desequilíbrio,

Já cai do salto, já cai do cavalo.

Eu já me achei a mais linda de todas,

A mais esquisita do mundo,

Já pensei ser a mais magra, a mais chata,

A mais interessante, a mais inteligente.

Eu já quis ser muita gente,

Já quis ser ninguém.

Eu já pensei em me matar,

Ou em me clonar para poder viver o dobro.

Eu já quis sair correndo e pular no seu colo

E te abraçar como nunca,

E já quis sair correndo e dar com o pé no meio do seu peito

Para você perder o ar e morrer.

Eu já fui em enterros, maternidades, floriculturas,

Lojas de roupa, sapatos, supermercado,

Artesanato.

Eu nunca fui a um sex shop.

Eu já planejei um aniversário num motel,

Numa balada, numa casa de festas,

Numa churrascada.

Eu já planejei nunca mais comemorar um aniversário sequer.

Eu já adorei carne mal passada, já adorei carne torrada.

Eu odeio carne hoje em dia.

Nunca comi nenhum bicho a não ser peixe, frango e boi.

Eu já tive celular grande, pequeno, mais ou menos.

Já andei sem celular.

Já preferi o Tone ao Pulse do telefone.

Eu já quis te ligar para te chamar para sair,

Eu já desisti de te ligar e te chamar para sair,

Eu já te liguei e te chamei para sair.

Eu já me odiei por ter saído com você.

Já pensei que te amava,

Já pensei que te odiava,

Já pensei ser só tesão,

Já pensei ser só imaginação.

Não sei o que é até hoje.

Eu já andei de carro, de ônibus, de trem, de metrô,

De avião, de navio, de bicicleta, de skate.

Nunca andei de helicóptero.

Eu já fiz o maternal, a pré-escola,

O ginásio, o colegial, a faculdade,

A pós-graduação.

E nunca aprendi como lidar com algumas coisas da vida.

Eu vivi tão poucos anos, mas já tenho uma bagagem que só um

Boeing transportaria.

E mesmo com todas essas experiências guardadas em minhas malas,

Ainda acho que tenho muito mais a viver,

A aprender.

Imagino que depois de viver mais ¾ de século,

Que ainda estão por vir,

Vou ter de contratar uma frota de Boeings para levar

Todas as minhas bagagens de vida

Para o meu último voo.

E uma das grandes lições que eu já aprendi e já vivi nessa vida

É que nada que eu puser de conteúdo dentro das minhas bagagens

Terá sentido se não for vivido ao seu lado.

Bye Bye Brasil - 01/06/2010

Mariazinha cansou de sonhar.

Demitiu Capitão-Comandante-Tenente-General Americano

E seus soldados paramentados até os dentes.

E por justa causa!

Eles censuraram Mariazinha por anos a fio.

Não deixaram a pobre coitada sonhar feliz.

Eram sempre sonhos determinados por eles

Em um briefing demorado, feito todas as tardes.

Mariazinha decidiu que não dormir era a solução

Mas nem por isso deixaria de sonhar.

Resolveu sonhar acordada.

E mesmo acordada, sonhou com você de novo.

Cara a cara, frente a frente

Sinceridade na ponta dos dentes caninos

Prontas para serem ditas e esclarecidas

Em pequenas mordidas ardidas na pele

E como a realidade sonhada acordada mexe

Como nosso fluxo sanguíneo,

Como nossos batimentos,

Como nossos sentimentos.

Quer dizer, com os sentimentos de Mariazinha.

Mariazinha suou frio no sonho acordada,

Enquanto tinha aquecido seu coração

Quando sonhou dormindo na semana passada.

Mariazinha não conseguiu piscar,

Não conseguiu respirar

Frente a frente com você.

Mariazinha se beliscou, bateu com as mãos na cabeça,

Mariazinha ligou e religou o sistema,

Para ter certeza não ser um tilt no servidor.

E não era.

Era a realidade mais surreal de sua vida.

Um dia ela sonhou sem querer,

E hoje ela teve opção,

E optou por te ver, muito.

Ver, rever, ver de novo.

Quase sentir sua pele,

Quase sentir seu rosto colado,

Quase sentir seu cheiro dormindo.

Quase sentir seu sabor, seu gosto.

Quase ouvir sua voz ao pé do ouvido,

Quase sentir seu abraço.

Quase sentir seu calor.

Quase sentir sua boca.

Quase sentir suas verdades.

Quase sentir seu peito colado.

Quase sentir sua mão em seu cabelo.

Quase sentir aquela promessa de beijo no pescoço.

Quase sentir a alma saindo do corpo.

Quase sentir as horas estagnadas no relógio.

E tudo o que Mariazinha pode sentir realmente

Foi seu corpo esquentando,

O tempo parando,

A vida não andando mais,

A vida não fazendo mais quase sentido algum,

O corpo querendo,

A alma implorando,

O coração palpitando,

O peito queimando,

Ardendo em fogo.

Era tanta felicidade que dava até tristeza

E vontade de chorar.

Mariazinha ficou encantada,

Inebriada,

Hipnotizada.

Um dos soldados de Capitão-Comandante-Tenente-General Americano

Voltou à casa de Mariazinha para terminar de retirar suas coisas

E encontrou a moça naquela situação,

Como um conselho, disse:

“Deixa chover, Mariazinha.

Não abra seu guarda-chuva.

Deixa a água cair, te molhar

E você sentir a temperatura dela.

Só assim você vai saber se esse vírus

Vai aproveitar sua imunidade baixa

E se instalar em seus pulmões”.

Mariazinha deixou aquela água cair

Sobre e sob seus olhos,

E agora sem resposta alguma

E com vontade de voar pelo mundo.

Mariazinha entrou em uma guerra,

E não sabe se está armada o suficiente

Para tentar a vitória.

Está tudo voltando à vida de Mariazinha,

E ela reconsidera recontratar

Capitão-Comandante-Tenente-General Americano.

É mais seguro para seus sentimentos.

Antena Paulista - 27/05/2010

Um exército paramentado até os dentes protegiam

Os sonhos de Mariazinha.

Eram facas, pedras, canivetes, armas pequenas,

Metralhadoras, fuzis,

Tanques de guerra, mísseis, granadas, bombas, homens-bomba,

Tudo para proteger Mariazinha de sonhos agitados,

Que comprometessem seu descanso.

Mas após cerca dois anos de sucessos nas batalha desta guerra,

Capitão-Comandante-Tenente-General Americano,

Chefe do exército, resolveu tirar uma noite de folga,

Afinal só o risco de seus homens aparecerem

Já era suficiente para os sonhos agitados passarem

Bem longe da cama de Mariazinha.

E naquela noite, Mariazinha sonhou.

Em um dos seus dias mais cansados,

Sonhou agitado e acabou com sua estabilidade.

De repente, uma vitalidade incrível.

Em seu sonho, Mariazinha estava com uma vivacidade

Que há muito não se via.

Andando feliz, aparentemente falando sozinha,

Mariazinha sentiu suas mão dadas às de alguém.

Já sabia quem era, afinal há um bom tempo havia

Encontrado uma pessoa.

Mas não era quem ela pensava. Era você!

“Como assim você aqui?”, questionou ela.

“Fica comigo?”, respondeu você.

“Mas eu já estou aqui com você”, retrucou ela.

“Não é ficar hoje. Esteja comigo?”, fez-se a questão.

“Agora? Agora você aparece e me pergunta isso?”

Mariazinha ficou sem entender nada.

Mesmo com a não-resposta, os dois seguiram radiantes.

Dentre sorrisos, conversas, beijos,

Mais uma pessoa estava ao lado deles,

Mas era mais um grande amigo no meio dessa história.

“Larga ele e fica só comigo”, você questionou de novo.

E a não-resposta foi a resposta, de novo.

Mariazinha não entendia como aquilo estava acontecendo,

Se o Capitão-Comandante-Tenente-General Americano

Sempre a protegia. Onde estaria ele?

Em um bar, bêbado, jogando sinuca,

Capitão-Comandante-Tenente-General Americano

Não estava nem um pouco preocupado com o

Sonho de Mariazinha.

Ela acordou ainda sonhando e se questionou

“O que é isso? Estou sonhando?

Isso tudo tão real que sinto sua pele!”

E ela resolveu abrir os olhos, e encontrou seu quarto escuro

Onde ela dormia sozinha.

Vendo que os soldados estavam longe,

Resolveu ser dona de suas razões,

Deitou de novo, dormiu mais uma vez e

Determinou continuar o mesmo sonho,

Como quem pausa um filme na TV.

E o sonho continuou, e você continuou perguntando

Se Mariazinha largaria tudo para estar sempre com você.

Ela resolveu não te responder,

Assim como nunca teve resposta alguma.

Vocês seguiram radiantes, de mãos dadas,

Olhando o céu e o sol incandescente que não ofuscava seus olhos.

E por horas, Mariazinha sonhou com você.

Simples assim. Vocês conversando, rindo muito de qualquer coisa,

Planejando quaisquer outras bobagens.

Tudo sem sair do lugar e sempre de mãos dadas.

O despertador de Mariazinha tocou às 9h,

Mas sem Capitão-Comandante-Tenente-General Americano presente

Para bombardear seus sonhos, ela só fez desligar o despertador e seguir sonhando.

E era tão surreal para ela que a realidade se misturava com o sonho, com você.

Americano e seus soldados bateram na porta dela às 9h30.

O discurso de desculpas já estava pronto,

Mas Capitão-Comandante-Tenente-General Americano nem precisou dizer uma palavra.

Mariazinha disse que teve um sono tranquilíssimo,

Como nunca houve em sua vida.

Americano e seus soldados armados até os dentes

Ficaram aliviados com a notícia.

Há tempos Mariazinha não se permitia sentir

Qualquer coisa que viesse à tona,

Há tempos Mariazinha não se permitia pensar em você.

Depois de passar o dia pensando no sonho,

Sentindo o céu azul e o sol incandescente,

Mariazinha comprou um bom vinho, foi para seu quarto,

Deu folga para Capitão-Comandante-Tenente-General Americano e seus soldados,

E esperou por você na noite seguinte...

Fora de Órbita - 17/04/2010

Na última página de um caderno do Estadão de hoje

Li uma notícia que para mim soa como antiga

“Obama quer mandar homens para Marte”.

Ah, Obama, fala sério!

Você quer agora mandar os homens para Marte?

Eu quero isso há anos! Quero meus royalties!

Na sequência, a notícia dizia:

“Os planos do presidente dos EUA são para 2030”.

Meu filho, você faz um 'planão' desse para daqui 20 anos?

Vamos mandar os homens para Marte amanhã!

Fretamos um ônibus – ou muitos ônibus –,

E vamos até a NASA. Despachamos os bofes,

E tchau e benção!

Na continuação, a notícia dizia:

“... Mas algumas pessoas se posicionaram contra os planos de Obama, em mandar os homens para Marte, e assim, cancelar o plano feito por George W. Bush para mandar, novamente, os homens para a Lua”.

Nessa eu to contigo, Obamão.

Nada de Lua, nada de território conhecido, conforto,

Divertimento. Nada de Lua.

O negócio é mandar esses caras pra Marte mesmo.

E faz o seguinte, Obamão,

Fica com os meus contatos e me liga que te ajudo nesse trampo.

Sento contigo e bolamos algo ainda melhor e talvez até mais fácil.

Vamos estudar a captação de patrocínio para mandar os bofes pra Netuno.

É o planeta mais longe do sol dentro do sistema solar,

E aí, topas?

Mas vamos logo com isso e veja se não me irrita você também,

Porque, Obamão, se eu me enfezar contigo também

Te coloco nessa barca!

*Baseado em fatos reais

Vamos Pontuar

Com você é tudo com ponto final.

Você fala e ponto final.

Reinicia a frase e ponto final.

Começa de novo, conclui rapidamente

E ponto final.

Comigo, sempre reticências.

Eu falo um pouco e reticências...

Continuo... e reticências...

Retomo o pensamento e reticências...

Mas é assim que é bom, não é?!

Imagina se eu também colocasse ponto final?

Seria sempre um jogo de afirmações e mais afirmações,

Nunca haveria a possibilidade de continuar,

De dar asas às falas, de seguir de outra maneira

Sem precisar concluir.

Mas as minhas reticências sempre vencem...

Eu sempre consigo fazer você relutar ao seu ponto final

E mudar o sentido de tudo antes que tudo esteja encerrado

E ponto final.

Sempre te dou a chance de parar e pensar,

Já que aqui o jogo de palavras é como

A Copa do Mundo

E vale taça de melhor do planeta para quem vencer.

Você já entendeu as regras do jogo,

E parece gostar de disputar esse torneio,

Assim, quem sabe, esqueçamos os pontos finais

E...

220V

È aquele olhar que te deixa estático.

Coisa de sentimento.

O olhar olha e te para.

Incrível.

Ainda mais se acompanhado de um sorriso,

Um sorriso no rosto, e outro no olhar.

Tipo aquele que encanta,

Que fala com o coração,

Com a tua alma.

E todos andam por aí olhando esses olhares,

Buscando essas emoções,

De se sentir congelado com um olho no olho.

Pensa assim: O olhar te olha,

O corpo congela, o sangue continua quente,

Mas corre muito mais rápido pelo corpo,

E você só sente uma correria danada nas veias,

E o resto parado, imóvel, estático, paradinho da silva.

É como um choque que recebes.

Um olhar que sobrepõe qualquer óculos que se imponha

Na sua frente.

E não tem preconceito, viu!?

Você pode ser quem for, esteja onde estiver,

Em qualquer situação.

No mundo, em algum lugar dele, tem um olhar que te congela.

A dica? Olhe muito os olhares.

Na rua, no trabalho, em casa, entre os amigos, na correria.

Mas há ressalvas quanto a quantidade de olhares chocantes que uma pessoa

Pode ter na vida.

Não se sabe ao certo quantos podem ser,

Se muitos, se poucos.

Vai de cada organismo,

Mas, cuidado.

Um olhar que te congela é altamente benéfico para o coração,

E tudo pode mudar em um olhar.

Se resistires a ele, uma pena.

Mas saiba que nunca mais vai esquecê-lo,

Ao menos.

Roupa Nova

A vontade que dá é de entrar em você,

Me vestir de você,

Me transvertir de você.

Isso tudo é vontade de ter você em mim.

O processo é dolorido,

Já que entrar um no corpo do outro não é das tarefas

A mais fácil,

Mas é possível.

É uma vontade que inspira,

E me faz transpirar.

Mas te usar de carapuça não quer dizer

Que vou ser você.

Apenas vou estar de você.

E o bacana é que nossos ingredientes vão se misturar.

Deixarão de ser só seus, ou só meus.

Serão os nossos ingredientes.

E há música para ser enredo de tudo isso.

Há força, há vontade, há arrepio.

E se alguém quiser nos cortar ao meio verão

Que há meio eu meio você de cada lado.

Eu prefiro assim,

Me vestir de você.

Marinheiro - 18/02/2010

No meio de tantos gritos e agressões,

Um pensamento de paz:

“Como eu amo esta cidade...”

As muretas da praia em estilo naval,

O museu, os lugares para comer.

E no fim deste visual, as luzes da praia perfiladas.

Aquele sem-fim de luzinhas, contornando.

A praia em meio-círculo, e a cabeça girando.

O cheiro que alguns repelem,

A maresia.

Os ônibus em tons de azul e verde me acalmam,

Pois têm o nome da cidade estampado bem grande,

Em branco.

A cor do sentimento que tenho aqui.

E tudo me acalma, saber que estou aqui me acalma.

Sentir-me aqui me dá plenitude.

Ah, como é bom voltar!

Mesmo que quem tenha me trazido de volta

Tenha sido um furacão.

Era uma vez... - 16/12/2009

Tive que ir lá, depois de tanto tempo.

Foram anos só de lembranças e tive que recordar os momentos

Na pele.

Antes, eu guiava todos.

Agora, eu me guiava.

Foi engraçado entrar na avenida, ver aquela imensidão de placas,

Lembrar de cada calçada, de cada pizzaria.

Me arrepiei de voltar aos prédios, de enxergar o passado,

De todos saindo pelas escadarias, indo ao térreo.

Como passa o tempo!

Lembrei das comidas que haviam para vender,

Do saquinho com vários pães de queijo,

Das comidas que eu fazia,

Do cheiro da cozinha.

Engraçado...

A grande sensação foi lembrar o que eu pensava,

Quais eram os dramas, as alegrias, as esperanças,

As dúvidas.

As aflições não foram em vão.

Aqui estamos!

Doeu forte o coração, aperto ardente.

Ai, que saudade!

Andei por aquelas ladeiras todas,

As subidas, as descidas,

E conclui que hoje elas são menos íngremes.

Não deu nem para cansar.

Engraçado...

Os carros continuam lá, até os destruídos, sem rodas,

Nem faróis, todos batidos, em frente a delegacia.

Me deu saudade do bolo de fubá, e o fiz assim que cheguei.

E ele pareceu bem mais fácil, sujou bem menos louça,

Assou mais rápido.

Engraçado...

Não queria mais ir embora,

Mas parece que vou ter de voltar lá.

E sabe, nem me incomodei com isso.

A distância não se tornou mais um problema.

Engraçado...

Tudo continua igual. As casas, as lojas,

As portarias, a comida, os ambulantes,

A banca, o cheiro da rua, o guardador de carro.

Tudo intacto.

A única coisa que mudou dentro de tudo isso

Foi eu.

Pantera - 14/04/2009

Tudo azul, tudo lindo.

Frase típica de quem quer dizer que está tudo bem.

Mas eu sou uma das poucas pessoas,

Muito privilegiadas, diga-se de passagem,

Que pode dizer que está “tudo rosa, tudo lindo”.

Por poucos minutos pude ver o mundo cor-de-rosa,

Literalmente.

Era tudo rosa.

Não usei drogas, não alucinei,

Mas o mundo era rosa, ao menos o pequeno mundo

Em que me encontrava.

Havia um homem negro vestido todo de branco.

A cor de sua pele não se alterou -

A lei do dominante e recessivo -,

Mas sua roupa era cor-de-rosa,

Sua unha era cor-de-rosa,

A parede atrás dele, o armário,

A tela do computador, a janela.

Tudo cor-de-rosa.

E eu que relutei tanto para entrar naquela sala.

O que é incurável me permitiu ver o mundo

De forma tão peculiar.

O preto-cor-de-rosa me olhava e questionava se eu estava bem,

Porque eu virava o pescoço para todos os cantos

Tentando ver o maior número de coisas cor-de-rosa.

Estava tudo bem, Sr Preto-Cor-de-Rosa,

Está tudo rosa!

Pena que durou pouco.

Ele já havia me avisado que seriam no máximo dez minutos.

Poucos podem contar como é isso.

Incrivelmente o mundo da Penélope.

Saindo de lá, sem alucinações,

Sem drogas e sem qualquer efeito,

O mundo cinza me esperava.

Como é ruim voltar assim à realidade.

Responde -11/04/2009

Depende do que é fim pra você.

Fim do dia, fim da semana,

Fim do mês, fim do ano,

Fim do fim, fim do que começamos,

Fim do que terminamos.

Ou o fim não é de final,

E sim de finalidade?

Nos encontramos no fim

Ou a fim de?

Enfim, não consigo ver esse fim.

Porque me perdi no começo.

Eu achava que o fim tinha chegado

A fim de por fim,

Mas se você diz que nos encontramos no fim,

Me explica qual o caminho a fim de eu chegar lá?

Se eu vou aqui e você vai aí, nos encontramos no fim?

Porque se eu saio daqui e você daí, vamos nos encontrar no meio.

No meio é melhor, mais longe do fim.

Na verdade, na metade do caminho pra ele,

Seja qual for o lado do fim. Aqui ou aí.

O que é o fim passado tanto tempo?

O que define que o fim já chegou?

Vou explicar porque.

Quando o fim chega, acaba o conteúdo,

As letrinhas sobem na tela. A música para de tocar,

A fome passa, o sono passa, o sol nasce, o sol se põe.

Coisas definem o fim das coisas.

E quando nada diz que o fim chegou,

Como saber?

Prefiro pensar que o fim nunca chega.

Aliás, tudo hoje é reflexo de nunca permitir o fim chegar,

Porque senão teria deixado ele finalizar tudo há tempos.

Mas a minha paciência não tem fim,

Assim como outras coisas mais dentro de mim.

A fim de não ver o fim, prefiro não te encontrar no fim,

Porque senão nos encontraremos e fim.

E fim para mim não põe fim a nada.

Vou daqui, você vai daí e nos encontramos no meio,

Fazemos um meio e deixamos o fim para o fim.

A música não para, as letras não sobem, a fome não passa,

Só quero por fim nesse silêncio

E começar tudo de novo, enfim.

Mural - 10/02/2009

Sempre que eu estou lá é assim quando fecho a porta.

São várias. Comigo, com amigos, família,

Pessoas que amo muito, pessoas que amo menos,

Pessoas que sinto saudades.

Tem as com foco, as sem foco.

As coloridas, as pretas e brancas.

As pretas e brancas cheias de cores.

As coloridas sem alma, pretas e brancas.

Com brilho, foscas.

As contra-luz.

Sorrindo, séria, abraçando, beijando,

Pulando, sentindo o vento.

De locais, lugares que estive,

Lugar que sonho estar.

Cidades que amei, cidades que visitei,

Cidades que sonhei, cidades que vivi.

Estados com praia, Estados sem praia.

Capitais, interiores, litorais.

Dunas, mato, rios, mares, lagos.

Lugares de gente rica, lugares de gente pobre,

Mas sempre lugares de gente de muito coração.

Amigas para sempre,

Amigos de uma semana para a vida inteira,

Amores, desamores. É tanta gente.

Tem as de 10, 13 e 18 centímetros.

Tem as que eu escolhi estar,

Tem as que me obrigaram a posar.

Tem as que estou sozinha imaginando a companhia.

Mas é uma vida mista de emoções retratada ali.

Tem eu, tem tu, tem ele,

Tem nós, tem vós, tem eles.

Tem tudo. Tem todos.

Mas só eu penso compreender cada uma delas.

E é assim sempre que fecho a porta

Do meu mundo.

Meu mundo retratado.

Fulaninho de tal.. - 02/02/2009

Sabe, estava pensando...Se fosse macho, se chamaria Olavo.

Única e exclusivamente que foi lá que pude

Olhar de novo nos seus olhos,

No fundo dos seus olhos fundos.

Depois de tantos e tantos e tantos anos,

Foi lá. E essa seria a homenagem.

Fazer uma vida crescer sob a regência do nome

Do local do reencontro.

Não que eu goste ou admire o nome.

É só para eternizar o momento numa vida.

Mas, sabe... não é macho e não existe, na verdade.

E mesmo se existisse, não seria seu.

São apenas divagações de uma vida calma

Que teme ser abreviada.

Grata, volte sempre - 02/02/2009

E são inevitáveis tais perguntas.

E se tivéssemos dado certo?

E se tudo tivesse saído como o meu plano?

E se os encontros e telefonemas resultassem em algo maior?

E se tudo o que sentíamos tivesse virado amor?

E se todo aquele calor fosse um verão para a vida inteira?

E se todos aqueles abraços virassem algo real?

E se a nossa vida fosse hoje uma só?

E se todos os cinemas, jantares e saídas fossem com você?

E se seu número fosse o mais discado pelo meu celular?

E se a sua rua fosse a mais visitada por mim?

E se seu porteiro já me deixasse entrar sem interfornar?

E se eu já tivesse escolhido um lado da nossa cama?

E se a minha toalha fosse estendida ao lado da sua?

E se tivéssemos dado certo?

E se tudo isso tivesse acontecido eu só teria uma resposta

Eu não seria tão feliz como sou hoje, sem tudo isso.

Obrigada por não ter resposta para inevitáveis perguntas.

Obrigada por tudo que poderíamos ter sido e não fomos.

Velha? - 31/12/2008

É legal fazer aniversário, né?

Você acorda um dia e pronto, está um ano mais velho.

Esperamos do dia seguinte ao aniversário ao dia anterior a ele no ano seguinte

Por essas 24 horas.

Há quem diga que não gosta de comemorar.

Provavelmente é algum velho de idade ou espírito,

Que não lembrar que mais um ano passou com relação

À alguma coisa.

Eu gosto e desgosto.

Gosto porque é "meu dia"

Mas, particularmente, é um dia muito ingrato para comemorações

Porque o mundo já está em festa.

Enfim, será assim até eu morrer,

E em 24 anos até já deu para acostumar.

Mas esse "envelhecimento" de um dia para o outro é determinado

Pelo quê?

Quando eu era criança me imaginava com 15 anos,

Mais velha, madura, dona de mim.

Quando fiz 15 anos olhei para mim e disse:

E?

E agora? Tenho 15 anos e? O que mudou para os 14?

Exatamente naquele dia, nada.

Mas nos dias e semanas seguintes as coisas foram mudando.

Mas na adolescência os dias são favoráveis a nós.

Eles trazem novidades, crescimento físico,

Muito aprendizado no colégio.

Aos 24, o que muda comparado com os 23?

Hoje, ainda nada. Mas ainda nem passei dos 24,

Estão "sendo completados".

O que parece é que os anos demoram muito para fazerem efeito em nós.

Quando você finalmente se sente maduro o suficiente

Para assumir aquela idade,

Vem outro aniversário.

E aí a idade velha já era,

Porque você precisa se habituar à nova.

Mas tudo parece mais como uma

Traquinagem da vida,

Afinal, assim nunca paramos.

Eu sempre achei que conforme fazíamos aniversário

Nossa cabeça mudava.

Acordei mais velha,

Acordei outra pessoa.

E muitas vezes me pergunto como é a cabeça

De alguém de 50.

Será que há insegurança como alguém de 16?

Não sei responder e nunca questionei um

Quinquagenário sobre isso.

Mas sei que em alguém de 24 há inseguranças

De pessoas com 16, 27, 38 e 10 anos.

E quem sabe daqui 26 anos eu possa responder

A minha própria pergunta.

Acho que a fórmula é a seguinte:

A cada ano vive-se um novo e mais

Todos os outros que já foram vividos.

Você ganha mais 365 dias de uma vida nova

Acoplada com outros 365 dias multiplicados pelos anos já vividos

Tudo de uma vez só, em um dia só, a nova chance.

Ainda me sinto com a idade antiga,

Mas saúdo a idade nova.

Em pouco tempo eu me acostumarei.

Eu sei, é sempre assim,

Todo ano a mesma coisa.

E agora? E agora aos 24?

E agora, nada.

E agora, é viver,

Porque essa será a única chance de se viver esses 24 anos.

Divididos e vividos em 365 dias

Mais os outros 8.395 dias acoplados.

E Viva!

Vida Nova - 19/12/2008

E algo de repente nos faz parar.

Pare, olhe, escute,

E não é o trem que vem vindo.

Temos por (mau) hábito planejar

Começos e reinícios para o primeiro dia da semana,

Para o primeiro mês do ano.

A esperança é que segundas-feiras

(Que é o segundo dia da semana)

E janeiros tenham mágica em seus dias e horas.

Mágicas capazes de mudar vidas, rumos, cursos.

Tudo que começa na segunda-feira ou em janeiro

Tem mais força para realizar-se.

Será? Ou é sempre uma desculpa de adiamento,

Apenas.

Esperamos o ano começar para ter uma vida nova,

Mas a vida nova começa a cada dia novo.

Não coloque esperança e certezas apenas no ano que começa

Porque o que se encerra ainda é tão especial

Quanto será o próximo, um dia.

Em dezembro geralmente fazemos um balanço de como foi o ano.

Alegrias, tristezas, perdas. Foi bom? Foi ruim?

O que determina isso?

Mas a nossa chance de dizer "foi bom" é a cada 24 horas.

A cada acordar é uma nova chance de fazer melhor,

De ser melhor, de conquistar, de emagrecer,

De engravidar, de casar, de ser feliz.

É o dia de hoje a bola da vez.

Foi nesta manhã a contagem regressiva

E será nesta noite o juízo final,

O balanço do bom e do ruim.

O presente é tão presente que vem novinho em folha

Todas as manhãs.

Então não deixe para que

"2009 seja melhor"

E tenha apenas um

"Amanhã melhor"

Porque é injusto com o seu presente menosprezá-lo

Só porque o futuro lhe parece mais atrativo e sedutor.

Não se desgaste com projetos para uma vida nova num ano novo.

Tenha uma vida nova a cada dia e assim

Construa o seu ano .

Seja feliz sempre, todos os dias,

Por que esperar por janeiro?

Falta taaaanto tempo ainda.

Melhor sorrir hoje.

De repente vem o sinal do

Pare, Olhe, Escute.

É a vida dando sinal,

Lhe alertando de que ela não é o trem,

Mas sim passageiro.

Piadinha infame simplesmente para lembrar-te

Faltam alguns dias para 2008 terminar.

Que tal fazê-lo feliz?

Sua chance é simplesmente hoje,

Porque, simplesmente, amanhã pode não chegar.

Saúde, felicidade e alegria.

E Feliz Ano Novo!!!

Feliz Ano Novo todos os dias!

Feliz Vida Nova Sempre!

Primeiro Dia - 26/11/2008

Falamos tanto dos sábados, dos domingos.

Mas a idéia é falar da segunda-feira.

Temida, mal esperada,

Riscada de muitos calendários.

A espessante de muitas emoções.

Presta atenção:

Você sai no fim de semana,

Faz diversas coisas, ou poucas,

Não importa,

Mas faz coisas.

Coisas que te fazem bem,

Coisas que te fazem mal.

Pessoas que nascem,

Pessoas que morrem.

Beijos, carinhos, abraços,

Pessoas novas.

As emoções do fim de semana

Podem ser inúmeras

E costumam ser fortes.

Viagens, trilhas, kart, cinema, teatro,

Balada, competições.

Então, quando acordas na segunda-feira

Relembra tudo o que aconteceu, e,

Preste atenção,

Como tudo fica mais forte,

Mais definido, redefinido.

As tristezas são mais densas,

Porém mais claras. E continuam fortes.

As festas e baladas tornam-se mais reais.

Sabe aquela sensação de que tudo não passou de um sonho?

A segunda-feira mostra-nos que não,

Que foi real. E que toda a diversão foi intensa e verdadeira.

O amor, ou o surgimento dele, bate diferente

Na segunda-feira.

Não é mais daquela forma aguda,

Que dispara o coração.

É mais calmo, mas mais intenso,

Mais forte, mais marcante,

E com um gosto de saudade

Que engasga.

O sentido de tudo é sentido

Na segunda-feira.

O olhar crítico já é mais distante dos fatos

E talvez por isso, tudo mais claro e mais forte.

Mas não adianta, a segunda-feira torna tudo maior

E continua sendo odiada.

É só pensarmos que a segunda-feira

É a ratificação de tudo.

Ela valida as verdades e carimba seu passaporte

Para mais alguns dias de espera até o fim de semana,

Quando você sentira tudo de novo

E temerá a sua chegada.

Pobre segunda-feira.

VideoGame - 25/10/2008

E eu tento, tento, tento.

Não satisfeita, tento de novo.

Tenho mais “vidas” que o Mario Bros.

Vou gastando as tentativas,

Traçando estratégias,

E tentando de novo.

Tento da direita para a esquerda.

Da esquerda para a direita.

De cima para baixo.

De baixo para cima.

Nas diagonais, perpendiculares, tangentes.

E gasto sem dó minhas “vidas”.

Coloco a cápsula B do Alex Kid

E tento.

Ao menos estou imune aos seus raios e trovões.

Já desgastei os botões do controle remoto,

De tanto tentar.

Mas insisto incansável,

Como o PackMan.

Mas não quero salvar princesas de monstros terríveis

Em castelos inatingíveis.

Nem salvar nenhuma cidade ou planeta.

Quero somente terminar esse jogo, e vencê-lo.

Não tenho nenhum Luigi para me ajudar,

Nem os Power Rangers Azul, Preto e Amarelo. Nem o Vermelho.

Não uso carros que voam, não ando sobre a água,

Não entro em tubos subterrâneos,

Não vejo flores que cospem fogo,

Não pego moedas voadoras,

Não chuto tartarugas, nem arremesso seus cascos.

Apenas tento sair desse jogo. E queimo cartucho para isso.

De vez em quando dá tilt.

Aí eu tiro a fita, dou uma assoprada no vão

E recoloco para mais uma tentiva.

Isso está mais para Palavra-Cruzada, Batalha Naval

Ou até mesmo Campo Minado.

E haja Paciência.

E eu tento, tento, tento, tento.

Queria mesmo que você fosse meu controle do Wii.

Me avisa quando der Game Over.

Secretária Eletrônica - 22/10/2008

O papo é reto. Direto.

Me deixa dormir.

Quero te ver, quero falar com você.

Sinto sua falta.

Sinto saudade da sua presença.

Gosto de ouvir a sua voz.

Aparece, liga, manda mensagem.

Deixa recado.

Sem muito nhém nhém nhém.

Chega, fala, faz.

Ok?!

Era só para deixar esse recado mesmo.

To indo. Te espero.

Beijosmeliga.

Obrigada pelo seu tempo - 13/10/2008

Eu sempre pensei assim,

Mas faltava o tom que me fizesse falar.



Não julgue com quais armas as pessoas lutam por si.

Muitas vezes são armas de fogo, certeiras e mortais.

Em uma única miragem, acertam o alvo, eliminam o inimigo

E ganham o jogo. Limpo ou sujo, vencem.



A arma pode ser branca. Afiada, afinada como orquestra.

É passo por passo, estágio por estágio,

Até alcançarem a marca maior.

Aos poucos, acertam o alvo. Limpo ou sujo, vencem.



Tem quem lute com armas de palavras.

Arquitetadas estrategicamente para chegar ao alvo.

E nessa luta, sai sangue da mesma maneira.

As palavras ofendem, derrubam, rompem circunstâncias.

E são apenas coisas ditas. Sujo ou limpo, vencem.



Há quem prefira lutar com armas no olhar.

Mapeiam o alvo, os inimigos

E golpeiam certeiramente, na estratégia.

Mas os olhos sempre entregam.

As armas brancas ou negras não falam.

A boca não fala assim, nem tanto quanto os olhos.

E os seus já foram identificados no radar.



Existem as lutas sem causa,

Em que são soltos golpes com a mão, o pé,

Os olhos, a boca, facas, armas de fogo.

O problema não é a agressividade do ataque,

E sim sua falta de propósito.

Lutas por lutas, sem sentido.

Por algo que se busca mas que não foi mapeado,

Apenas suposto.



Não dá para julgar, afinal todos lutam por si,

E por mais que se amarrem em circunstâncias

Fecham os olhos quando interessa,

E lutam com vendas nos olhos.

Mais fácil para justificar sua luta desproposital

E tantos feridos no fim dela.



Mas a pior das lutas é a sem arma.

Aquela que se luta para chegar a tal lugar,

Sem arma, sem pressa, sem estratégia,

Apenas pelo sabor de lutar e de se sentir viva.

Quer mais do que sentir teu coração pulsar todos os dias

Para sentir a vida?



Olhe para o lado e veja se não estás numa cama de hospital

Presa à aparelhos, com máquinas bombeando seu sangue.

Porque sua luta nunca foi luta.

E mesmo quem luta, mesmo que com armas fatais, ainda faz isso para

Satisfazer um coração que bate.

Gestão Financeira - 30/09/2008

E essa sociedade precisa ser analisada pelos contadores.

Parece que ainda não há definição por produtos ou serviços.

Se for produto, os lucros podem ser maiores

E o crescimento a longo prazo.

Mas de acordo com a análise,

A prestação de serviços não seria a melhor opção.

Se for, para quê sociedade?

Melhor cada um prestar e receber o seu.



É necessário estabelecer o preço desse produto

E definir os valores dos custos.

Depois disso, chegar a um preço de venda

E percentual de lucro.

Além de saber qual é a margem de contribuição

De cada produto a mais vendido.

P= C + %Lucro

Nesse caso, qualquer lucro é muito lucro.



As despesas gastas nessa produção estão concisas.

Isso é ótimo para o nosso negócio!

Porém o investimento ainda é pouco,

Há algumas perdas e o custo ainda é alto.



Melhor irmos direto ao nosso Balanço Patrimonial.

O Ativo Circulante é alto.

Muitos valores pendentes a receber de você.

Porém o Ativo Permanente ainda é considerado razoável.



Para isso, fiz uma grande PDD –

Provisão para Devedores Duvidosos.

Não há dúvidas de que há muita dúvida nesses pagamentos.



O que está baixo também é o Capital de Giro.

Partindo-se do princípio que o cálculo é feito assim:

CG = Todos os Gastos x 6

Eu precisaria de milhões para manter o negócio ativo,

Já que esses gastos me custam muito!



É, parece que esse negócio está em depreciação,

Analisando a demanda de mercado,

A oferta e os preços da concorrência.



Ainda há a chance de se investir para que o negócio cresça,

Se estabilize e ganhe uma grande parcela do mercado,

Desbancando os concorrentes.

Mas negócios e economia nunca foram o seu forte.



Aliás, é válido lembrar que o seu capital social

É 58,41% menor que o meu.

O que pode-se concluir que

O maior investimento na sociedade é meu.



Ainda há de se pensar no Ativo.

O Realizável a Longo Prazo é animador!

Muito a se fazer e, diga-se de passagem,

A curto prazo também.



Mas voltaremos ao desânimo se olharmos para o

Passivo Circulante.

Duplicatas e dívidas empilhadas em cima

Da minha cabeça.

O Exigível a Longo Prazo dá um alento.

Ao menos, o que se exigir.

Vamos tentar então a análise da Rentabilidade do Ativo?



♦% = V Final – V Inicial x 100

__________________________

V Inicial



Isso nos dá a margem de comparação

Com outras empresas de mesma parceria

E também na evolução ao longo do tempo

Da nossa sociedade.

Resultados desastrosos, não?

Acho que entramos no vermelho.



O que pode-se concluir é que os custos do produto

Estão alto demais.

E os rendimentos, baixos

Já que as vendas caíram drasticamente

E essa economia está em recessão.



Meios de investimentos, há.

Mas é necessário unir forças para isso.

Essa sociedade, de anônima, passou a limitada.

Porém o mais certo de resultados seria uma

Sociedade Ilimitada.



Temos que encontrar o denominador comum em tudo isso,

Para então aumentar a produção,

Melhorar a qualidade do produto,

Sem ter que buscar mão-de-obra especializada no mercado.

Assim manteremos as despesas,

Diminuímos os custos,

Aumentamos o investimento,

Dobraremos a margem de lucro

E agregaremos valor a marca,

Só para não deixar o marketing de lado.



Ou então, meu amor,

Declaramos falência.

Descalcule - 16/09/2008

Matemática?

Não entendo a sua.

Mas que contas são essas? Desconexas.



Divisão de amores.

Subtração de pessoas.

E nada de soma.

Nem sinal de multiplicação.



O seu “X” é de “cruz credo” mesmo.

Sem chance de divisão de bons momentos.

Nem diminuição de distância.



É só soma de dias e mais dias que passam.

E multiplicação de irritações.



Ah, mas eu sempre soube que matemática é chato.

Sempre foi a matéria que eu mais odiei na escola,

E a que eu mais estudei.



Mas essas equações têm muitos colchetes, parênteses,

Sinais que confundem a soma total,

Que de acordo com meus cálculos

Deveria dar dois,

Mas está dando três, quatro, cinco e seis.



Adoro biologia e química,

Mas meu forte é português.

Conjugações no Imperativo Afirmativo,

Que é provém tanto do Presente do Indicativo,

Como do Presente do Subjuntivo.

Saia Tu! Saia Você!

Ressaca - 07/09/2008

Tomei um porre,

Desses que você esquece até seu nome,

RG, endereço.

Sai cedo do trabalho e andando vi umas pessoas num boteco,

Me pareciam tão alegres e falantes, que resolvi ver o que bebiam.

Cana da boa.

Envelhecida alguns tempos no barril de carvalho,

Vai uma, vão duas, vão três, vão quatro,

Parei de contar.

Sai meio torta e continuei a andar.

Aproveitei o tempo e o estado e resolvi conhecer mais São Paulo,

E os arredores de onde trabalho.

Caminhei por debaixo do Minhocão,

O chamado Elevado Costa e Silva.

Por cima, de carro, mal se vê a estrutura.

Vigas espessas que sustentam aquelas toneladas de veículos.

Bom saber o que me sustenta quando passo.

Logo na frente havia outro bar com mais uma turma animada

Com a terça-feira ensolarada.

Uma loira gelada punha gosto na conversa. Nada mal.

Pedi umas e bebi mais um pouco.

A saída foi um pouco torta, mais do que a “cana do carvalho”.

Peguei o metrô. Há quanto tempo não pegava esse meio de transporte?

Estranho que não entendi se estava bêbada ou se realmente vi aquela cena.

Após comprar meu bilhete, desci as escada rolante seguindo para a plataforma

E vi duas placas:

-->Corinthians Itaquera

Palmeiras Barra Funda <--

Corintianos e palmeirenses assim, lado a lado, no metrô?

E o pior, só tinha são paulino na plataforma!

Devia estar muito bêbada!

Enfim, peguei meu rumo. Andei algumas estações e voltei pro mesmo lugar.

Continua tudo a mesma coisa, exceto eu não me lembrar de nenhum japonês

Nem entrando, nem saindo da estação Liberdade.

Passeei mais um pouco pela região e vi umas pessoas numa conversa séria em um boteco.

Bebiam vinho Chapinha. Chapinha?

Para mim isso era aquela placa pelante que passava no cabelo para ficar assim,

Japonesa da Liberdade.

Enfim, manda-me as doses.

Com a língua “arroxeada” continuei o passeio e foi bom.

Consegui ver que tem um supermercado chinfrim ali perto,

Um açougue horrendo e fedorento,

Uma casa lotérica para o dia em que eu confiar que ganharei muitos milhões na mega-sena,

Dentre uma passada tropeçada na outra, ainda vi um brechó

E uma velha que deu uma cusparada no chão,

Assim, no melhor estilo malandrão.

Cabelos brancos cacheados, saia no joelho, bolsinha de mão

E cuspe no chão. Cadê a estranheza?

Eu, heim!?

Cerveja, vinho e cachaça. Terça-feira a tarde.

É bom mudar a rotina um pouco.

Voltando para meu caminho, vi um sebo.

Livros do teto ao chão. Bons e ruins.

E uma cesta ao fundo da loja com inúmeros exemplares,

De Shakespeare a Ariano Suassuna.

“Três por R$1”, dizia a placa.

Três livros dessa qualidade por um real????

Poxa, paguei R$3 em cada dose da “cana do carvalho”.

Dava pra levar uns 38 livros.

Credo, insisto em não acreditar.

Essa gente parece que bebe.

Termos - 14/08/2008

Temos Termos?

Em quais termos temos termos?

Termos de tempos?

Termos de segurança?

Termos de compromisso?

Temos termos de compromisso?

Em quais termos temos termos de compromisso?

Termos que só de ouvir já tremo.

Temo não ter termos. Mas por quê tê-los?

Tê-los para se ter algo. Nem que sejam só termos.

Termos para termos alguma coisa.

Sem os termos, o que teremos?

Termos de pressão, de palavras desconexas.

Termos que fincam nossos pés na situação,

Termos que nos solidificam, petrificam,

Apodrecem.

Tempo de termos termos.

E se não tê-los, por quê temê-los?

Termos são só termos.

Uns têm. Outros nunca souberam.

Temos termos? Em quais termos temos termos?

Não trema. Não tema. Não tenha.

Os conheça e os ignore.

Me dê cinco minutos,

Vou redigir em quais termos temos termos.

...

Teatro - 06/08/2008

Ah, mas como ela é linda.

Sempre linda, branquinha, purinha.

Sempre assim: “Parabéns, felicidades, você é a mais linda que já vi”.

Vasos transparentes, água, flores em arranjos circenses.

Mesas decoradas, talheres alinhados,

Comida esfumaçando.

Os doces sentadinhos lado a lado numa vitrine instigante.

E os atores principais nesse cenário todo.

Sempre dois protagonistas, cada um de um sexo,

Seguindo exatamente o que manda o script.

Toca música, entra um, entra outro, passo a passo,

Pega na mão, senta, levanta, senta, levanta, sai.

Na cena seguinte, entram de braços dados,

A música emociona, senta, levanta, cumprimenta, anda, dança.

Um ensaio perfeito de como tudo deve ser.

Mas mais do que isso, é um ensaio de como a vida deve ser,

E talvez nunca será.

O cenário é perfeito, os atores fazem exatamente o que o diretor pediu.

Ensaiando uma vida real, prometendo diante do cenário o que se quer

Para uma vida toda de verdades.

Ao menos as promessas.

O que não se sabe é quando o diretor de elenco irá escolher seus protagonistas,

Nem quando será o ensaio, nem qual será a cor do cenário.

Mas resta, ao menos, a esperança, pois sabe-se

Que esse ato está no script.

Lenda - 27/07/2008

E o que era realidade não sabia-se mais de sua veracidade.

Se era verdade, realidade, sonho ou ilusão. Simplesmente foi algo,

Aconteceu.

E se era uma visita de verdade ou a esperança de que ela acontecesse.

E sabe-se lá se era algo espontâneo ou forçado pela realidade

De outra situação.

As palavras, os sorrisos, os beijos, as atenções.

O vestido, a diversão, as surpresas, as felicidades.

Sabia-se o limiar entre o que queria que fosse realidade e o que era para ser.

As pernas emaranhadas e as mãos unidas não eram as mesmas que eram vistas.

Mas toda aquela realista ficção interrompeu toda uma noite que era de verdade.

E o que era para ser um simples conto, virou uma lenda.

Mas lendas desmistificam-se e tornam-se ao início de sua natureza,

Voltam a ser fatos, contos, sonhos, palavras,

Que somente juntos e emanados pela nuvem de imaginação,

Viram lenda.

Não se acha qual ponto é verdade,

Qual ponto é ficção,

Mas sempre sae-se a lição.

E sem saber o que é sonho, realidade ou imaginação,

Foi assim.

Os detalhes, simples. Incontáveis.

Não por serem inúmeros,

Mas sem motivos para descrição

Afinal, sabemos de todos.

No susto, mais uma passagem na noite seguinte.

Algo mais turvo, com menor possibilidade de se lembrar.

Mas não menos memorável.

Mas para quê contar sonhos, pensamentos, devaneios?

Já disse algum compositor:

“Foi um devaneio meu, um veraneio seu, e um outono inteiro em minhas mãos”.

Basta limpar todas as folhas derramadas das árvores no jardim,

Apagar as lembranças desse outono,

E alimentar esse jardim imenso que surge nas noites bem e mal dormidas,

Com ou sem companhia,

E que se limitam a serem apenas flores de um jardim inconsciente.

Dois pra lá, dois pra cá - 16/07/2008

E tem esse tom meio poético,

Meio valsa, meio tango.

Um canto de violino, soa.

Mas são apenas duas sombras em uma dança.

Num ritmo compassado, coreografado, ensaiado.

Em balanço de mar, de barco, de chão de concreto.

O som de ondas batendo, de música tocando, de samba,

De novela.

E são só duas sombras em um colchão d´água,

Em uma cama enorme,

Em um espaço único, só para duas sombras.

Sombra que vê de cima.

Sombra que vê debaixo.

Sombra que não vê, de costas.

E a dança meio rock´n´roll, ainda assim, é poética.

E o descanso é ali, na sombra, no ombro, no peito,

No balanço. Em ritmo de calor.

E mesmo sombras, ainda se olham.

Sombras com olhos.

Sombras mais que contorno,

A alma das sombras, os rostos, os cheiros,

As temperaturas.

O quadrilátero final.

Mas sombras sem voz, que não falam,

Não se expressam com palavras.

Só expressam com balanço, movimento, música,

Ritmo.

Sombras embaçadas, vultos desformes,

Mas tateáveis. Tangíveis.

Sombras em balanço de água, de algodão, de ferro,

Que balançam, balançam,

Balançam meu coração.

iPod - 29/05/2008

Que música ela dança?

Que música a faz balançar?



Ela tem a ginga de Seu Jorge,

O balanço dos Novos Baianos,

O ritmo de Gil,

O tom de Caetano,

Mas suas pernas mexem como se fosse Jorge Ben.



Que música é essa que ela dança?

O que será que a faz balançar assim?



Seus pés vão para um lado e para outro,

Como se fosse Sara Bareilles,

Mas do jeito que sua cintura mexe,

Só pode Sia. Ou Jewel. Ou Yel Naim.

O corpo tem um movimento que me lembra

Michael Buble.



Será que é isso que ela ouve?

Que música a faz dançar assim?



Ela parece querer correr como All I Want, do Offspring.

Mas pode ser a batida do Shelter. Ou o som do Face to Face.

Pela sua expressão quando dança, deve ser Social Distortion.



E ela dança, balança, mexe, remexe, rebola.

Seu corpo pendula, seus cabelos voam, seus olhos fecham.

Seu sorriso nasce.



Assim, de longe, não consigo ouvir o que ela ouve,

Mas o que será que ela ouve?

Que música a embala?



O vestido esvoaçante só pode ser ao som do Cidade Negra,

Mas assim, desse jeito que ela balança, pode ser que seja Titãs,

Ou Paralamas. Assim como Renato Russo, Roupa Nova e Skank.



Realmente, não dá pra saber o que ela dança.

O que ela samba, pula, agita, mexe, remexe.

A não ser que seja funk.

Não, ela não parece balançar o coreto como a Tati.



Meu Deus, o que a faz ter esse ritmo, essa popa?!

Pode ser Sinatra, porque suas pernas voam pra um lado – New Yoooork –

E para o outro – Neeeeew Yooooooork.

Será? Ou então é Nutini. Paolo Nutini.



Penso que ela pode dançar ao ritmo de

Natalie Imbruglia, Bad Religion, Seal, Jack Johnson,

Incubus, Hole, Corine Bailey Rae, Joss Stone,

Carlos Santana, Kanye West, Lenine, Madonna,

Red Hot Chilli Peppers, Tracy Chapman, Zeca Baleiro,

Ataris, Matchbox Twenty, Zélia Duncan, Aerosmith,

Bon Jovi, Arnaldo Antunes…É Gwen Stefani!



Ai, ela pode estar dançando tanta coisa.

Pink, Fugies, Bob.

Michael Jackson, Three Doors Down.



Tenho certeza que desse som sai Mecanika,

Aliados 13 e Charlie Brown Jr.



Não sei, penso que nunca saberei o que ela dança.

A não ser que eu vá lá, e dance junto.

Mas meu vestido e meus cabelos nunca vão balançar como os dela.

Minhas pernas e cintura nunca terão aquele ritmo.

Meus braços podem não mexer como os dela mexem.

Ou então a música que ela ouve é tão tocante, motivante,

Que eu dance como ela.



Como dança essa menina!

O que será que a faz dançar assim?

Ao Norte - 27/05/2008

Vende-se casa, carro e cachorro

Tudo por mil reais.

Estou indo para Paris.

Paris, Roma, Amsterdã, Afeganistão,

O que importa?

Estou de mudança,

Indo, indo...

Vende-se camisa florida, calça jeans, sapato mocassim.

Tudo por mil reais.

Leve tudo,

Não cabe em minha nova casa

Na Estônia.

Na Letônia.

Na Lituânia.

Quero sambar em Santa Tereza,

Levantar o pano vermelho pro touro, em Madri,

Olhar a Torre Eiffel e cantar

“Je m´apelle Jordi, je ai quatre ans, je suis petit”.

Falando em “Le Bleus”, já dizia srta Sarkozy, vulgo Carla Bruni:

“On me dit que nos vies ne valent pas grand-chose,

Elles passent en un instant comme fanent les roses,

On me dit le temps qui glisse est un salaud".

Quero conhecer as Américas,

Saber tudo das Europas – a velha, a leste, a graciosa, a moderna.

Quero ouvir salsa no México,

Folk na Irlanda,

Killers na Inglaterra.

Vou falar todas as línguas.

O mundo inteiro num só.

Vende-se caixa de madeira cheirando a charuto velho,

Com pulseiras, brincos e anéis.

Tudo por mil reais.

Estou entrando no trem.

Transiberiana.

Vou conhecer a Mongólia, o Sri Lanka, a Pensilvânia.

Vou tomar café com Jorge Lucas,

Almoçar com Osama,

Dormir com Pitt,

Acordar com Law.

Vende-se vestido de bolinha, macacão azul, tiara da Mara Maravilha.

Tudo por mil reais.

Não sei se vou de Air Canadian, ou de American Airlines.

Vou pular do cume do Everest para o topo do Makalu,

Num salto só.

Vou jantar no Nepal,

E quem sabe estarei em Nova York no Natal.

Vende-se fotos da família, pratos, copos e um chumaço de cabelo da infância.

Tudo por mil reais.

Estou indo embora, de saída para o mundo.

Te vejo na Bélgica.

Aproveite e mande lembranças à ela,

Porque estou vendendo tudo,

Coisas, pessoas, lembranças,

Tudo por mil reais.

Vamos, tem lugar para você.

Que tal Alaska? Macapá? Nova Zelândia? Ilhas Maurício? Turquia?

Vende-se cozinha completa, batedeira e liquidificador.

Tudo por mil reais.

O navio está partindo,

O avião, decolando,

O ônibus, fechando a porta,

O trem, fazendo ‘piuí’.

De saída, de partida.

Próxima parada, moço, por favor.

O destino?

Meu destino é destino meu.

Nada 'Smart'phone - 15/05/2008

Te liguei errado.

Sim, foi engano.

Fui ligar para um amigo e seu nome estava em cima do dele.

Apertei a seta para baixo, mas não foi.

Sem perceber, apertei o ‘send’.

Vai, verdinho!

Vi seu nome piscando no visor.

Pára! Não!

End! End! End! End!

Meu teclado está com problema.

O celular está com defeito,

Porque caiu três vezes no chão.

Caiu uma vez quando fui te abraçar.

Caiu outra vez quando fui te beijar.

Caiu mais uma vez quando fui...

Bom, deixa pra lá.

Ainda bem que só deu problema com a seta para baixo

E que não deu tempo de completar a ligação.

Até porque do ‘send’, a mensagem segue para uma torre de transmissão,

Depois pra outra, pra outra, pra outra,

Até achar o seu celular, verificar o sinal,

E fazer meu nome piscar no seu visor.

Eu! Eu! Eu!

Então, fui lá:

‘Últimas chamadas – Chamadas Efetuadas’

Setinha pra baixo, setinha pra baixo, setinha pra baixo,

Seu nome!

‘Excluir’

“Tem certeza que deseja excluir esse registro?”

Ô seu celular,

Ô se tenho certeza!

“Sim”.

Pronto, chamada excluída.

Seu lindo nome foi eliminado dos meus últimos contatos

Até porque nosso último contato...

Bom, deixa pra lá.

Ainda bem que o ‘excluir’ do meu celular funciona melhor que a

Setinha pra baixo.

Preciso comprar um celular novo.

Preciso me apaixonar de novo.

Agora, na frente do seu nome tem a letra Z

Agora, seu nome é o último da minha agenda.

Agora, nunca mais te ligo errado

E quem sabe, nem certo.

End.

Queria terminar de outro jeito - 21/05/2007

E é só aquilo que a gente sempre busca,

E aquilo que nunca alcançamos. E talvez nunca chegaremos lá.

É algo que estamos condicionados a ir atrás.

Que nos ensinaram que é por isso que devemos fazer as coisas,

Para sermos felizes.

Mas nunca está perfeito. Sempre falta lago para a felicidade plena.

E será que chegaremos lá?

Não.

E se chegarmos? E se conseguirmos?

E quando vamos saber que é isso?

Na busca por ela vamos vivendo, vivendo esse intervalo

Que alguns chamam de vida.

Na esperança de alcançar, nos movemos pra frente.

Lutamos por tudo, nos justificamos, nos machucamos, aprendemos,

Vivemos.

Nessa lacuna dessa busca. E com uma só direção.

Caminho longo, caminho difícil,

Mas dizem que vale a pena.

Quem dizem?

Pequenas amostras de felicidades a gente tem na vida.

Um pedaço de chocolate, uma festa, um beijo, uma família,

Um amor, um amigo, uma conquista.

Fatos isolados. Amostras grátis que vem lá de cima.

Felicidade construída com anos e anos de vida,

E quando chega a hora de ir, nem somos avisados.

Não nos despedimos das nossas felicidades. Nossas por direito.

Mas vamos indo, não é!?

Seguindo na busca da felicidade. Personificada em relações, conquistas e valores.

Passo a passo sempre atrás da felicidade,

Que jamais encontraremos.

Felicidade não se adquiri, se constrói.

Sétimo dia - 07/05/2007

Neste domingo que nunca anda

Que nada anda.

Domingo com cheiro de domingo.

Dos mesmos domingos,

Sempre domingo.

Com cheiro de terça, de sexta.

Domingo transeunte

Que guarda a segunda.

Dia de fechar as portas mais cedo,

E abri-las mais tarde.

Domingo de shopping,

De churrasco, de praia,

De cama.

Domingo de 58 horas.

Domingo formado pelas memórias de outros domingos.

Dia chuvoso mesmo com sol.

Domingo que é sábado em Dezembro.

Domingo de saudades, de despedidas, de partidas.

Sempre aos domingos.

Dia das torcidas, dos uniformes, do futebol

E da macarronada de domingo.

Dia de ficar com os pais, com os filhos, com ninguém.

Porque ninguém merece o domingo.

Domingo dormindo. Domingo curtindo. Domingo pedindo

Para que nunca mais seja domingo.

Uma semana inteira que termina nele

Porque domingo não é o começo,

Domingo é o fim.

Deserto - 03/05/2008

Vai, pega as suas coisas e vamos embora.

Então arrume sua mala, junte suas tralhas.

Coloque tudo o que você precisa naquele baú.

Coloque tudo o que você vai precisar por uma vida inteira.

Limpe bem a poeira daquilo que estava guardado e vamos.

Vamos, rápido. Te espero no portão.

Vai, vamos embora daqui por uma eternidade. Voltaremos quem sabe, nunca mais.

Ei, se arrume, se apronte.

Junte suas três peças de roupa e vamos pra estrada.

Vamos a pé e de carona. Pegaremos carona nos desejos dos outros.

Quando eles resolverem ir atrás de seus anseios nós pegamos carona,

E economizamos caminho de nós mesmos,

Já que hoje estamos longe porque pegaram carona nos nossos sonhos

E mudaram a nossa rota. Vai, vamos. Vamos rápido, vamos ontem.

Meu coração quer ir logo, viajar nesse caminho que só Deus sabe.

Pegue seus quadros, seus discos, seus livros e suas fotos.

Pegue tudo e jogue fora. Nossa vida é nova vida.

Seus trapos servirão para nosso destino.

Esses trapos que são nosso passado.

Vamos para o Sudoeste. Depois para o Noroeste.

Vamos pra onde ventar esse sopro de agora.

Arrume seu passado e deixe tudo organizado na sua casa.

Empilhe velhos jornais com velhas notícias.

Enfileire seus cremes, shampoos e escovas no banheiro.

Guarde as toalhas brancas. Estique os lençóis. Afofe os travesseiros. Aqueça o edredon.

Deixe tudo arrumado e vamos. Iremos pra longe, pra sempre, pro sempre.

Para onde paramos, para onde sonhamos, para onde vemos.

Para onde queremos, para paz, para o conforto.

Para certeza, para o aconchego, para nós dois.

Para nós mesmos.

Frente e Verso - 17/04/2008

Me apaixonei pelas suas costas.

Sim, pelas suas costas.

As costas. De costas.

Não, não gosto do seu peito.

Nem pernas. Nem mãos. Nem pés.

Só costas.

Elas são fortes,

Músculos pequenos, ovalados, pentagramas,

Definidos, pomposos,

Como gominhos de framboesa

Com sabor de guaraná.

Nada de melhor em você,

A não ser seus olhos cor de uva.

Qual será o sabor da sua boca?

Tapioca? Coco?

Mas as costas devem ser sabor de algo muito proibido.

Ah, se o Velho Chico derramar suas bênçãos,

Eu vou ter suas costas.

Pela frente.

Ele/Ela/Ele

Ele olhava ela. Ela olhava ele.

Ele, João.

Ela, Maria.

Ele, José.

João olhava Maria de longe, sempre de longe.

Maria também olhava João da mesma distância.

Mas tinha José. Maria olhava José. E José olhava Maria.

João era alto, forte, loiro, cheiroso.

José era baixo, moreno, corpudo, cheiroso.

Maria gostava de olhar os dois, e os dois gostavam de olhar Maria,

Mas por que? O que eles queriam?

José aparentava querer diversão, risadas, companhia.

João parecia querer alguém pra vida inteira.

E Maria?

Maria queria rir e se divertir com alguém pra vida inteira.

Ele, João, nunca tentou se aproximar. Sempre com o olhar distante.

Ele, José, havia feito tentativas de falar com Maria,

Mas ela ficara nervosa. Perdeu o papo.

Então Maria foi conversar com João,

Mas ele ficou sem graça. Perdeu o papo.

De certo nenhum deles sabe o que será, e se será,

Mas se fosse certamente seria bom.

Como saber?

Maria sabe que João é protetor, cheio de amor, com um sorriso discreto e cativante.

E José?

José é divertido, animado, desprendido e ri como ninguém.

E agora, Maria?

Ele/Ela/Ele Parte II

E agora, Maria?

Mas como esquecer de Pedro, Maria?

Pior! Como lembrar de Pedro e não de Paulo também?

Ah. Pedro e Paulo. Além de João e José.

Pedro é baixo, moreno, cheiroso, atencioso.

Paulo é baixo, moreno, cheiroso, inteligente.

Maria olhava ele, Pedro, de perto e de longe.

Ele, Pedro, olhava Maria, sempre de longe.

Maria olhava ele, Paulo, sempre de longe.

Ele, Paulo, olhava Maria sempre de perto.

Ele, Pedro, apareceu de repente. Saiu do nada. Surgiu num dia qualquer.

Ele, Paulo, reapareceu após anos. Surgiu num dia especial tempos atrás.

E Maria?

Continua sem saber o que fazer. E se fazer.

Pedro tem olhar especial. Um brilho diferente. Uma cor mista.

Olha para Maria de um jeito forte e diz tudo só nesse olhar.

Mas dentro do seu território, porque fora dele o olhar de Pedro enfraquece.

Pedro perde o domínio, e seus domínios. Não sabe mais quem manda,

Pedro ou Maria.

E ele, Paulo, sabe olhar firmemente para Maria. De um jeito interessado.

Ele, Paulo, tem uma força que atrai Maria, mesmo de longe.

Maria quer sempre estar perto dele.

Mas e Pedro?

Mas e João?

Mas e José?

E ainda assim, e Paulo?

Ele, Pedro, não mostra muito o que sente por Maria.

Ele, Paulo, também não.

Mas Maria sabe o que sente por ele, Pedro.

E também por ele, Paulo.

Ainda assim, sabe o que sente por ele, João.

E não menos, o que sente por ele, José.

E agora, Maria?

Ele/Ela/Ele Parte III

E agora, Maria?

Ah, Maria!

Não bastava ter João, José, Pedro e Paulo, e agora Diego e Diogo?

Ah, Maria!

Diego é moreno, baixo, forte, cheiroso.

Diogo é loiro, baixo, magro, olhos claros.

Diego não olha muito pra Maria.

E Maria não olha muito pra Diego.

Ele, Diego, é discreto. Não olha, mas pensa em Maria.

Ela, Maria, tenta ser discreta. Não olha e tenta não pensar em Diego.

Ele, Diogo, olha muito pra Maria.

Ela, Maria, tenta não olhar tanto assim pra Diogo.

Diego sabe que não quer nada com Maria, hoje.

Ele, Diego, gosta dela mas tenta não se envolver.

Maria quer tudo com Diego.

Ela, Maria gosta dele e tenta não se envolver.

Já ele, Diogo, quer o mundo ao lado de Maria, mas amanhã.

Mas ele evita envolvimento porque tudo é muito intenso.

Já ela, Maria, quer a vida ao lado de Diogo.

Mas ela tenta se aproximar, já que ele, Diogo, só tenta se afastar.

E agora, Maria?

Maria tem duas pessoas que repulsam sempre que se aproximam.

Mas ela, Maria, tenta trazê-los sempre para mais perto.

E ele, João?

E ele, José?

E ele, Pedro?

E ele, Paulo?

Ah, Maria... Maria...

Diego tem abraço acolhedor.

Diogo tem sorriso acolhedor.

Ele, Diego, quer esperar mais um pouco pra ter Maria.

Ele, Diogo, queria ter Maria ontem, mesmo pensando só para amanhã.

Mas Diego pode esperar por uma vida toda e não ter Maria,

Porque ela, Maria, pode cansar-se.

E ele, Diogo, pode pensar tanto e tanto que pode não ter Maria,

Porque ela, Maria, pode cansar-se.

E agora, Maria?



* * * *



João merece um capítulo à parte



Ele olhava ela.

Ela olhava ele.

Mas ele olhava ela através de uma imagem do espelho.

Ele olhava ela a partir de uma imagem que refletia em um espelho,

Refletia em outro e refletia em outro.

João olhava Maria através desse prisma,

Uma imagem refletida três vezes.

E Maria olhava João no caminho inverso,

Mas também refletida três vezes.

Ele tem um nariz arrebitado,

Queixo pro alto,

Voz arrogante,

Pensamento ao longe.

Ele, João, pensa que é rei.

Ela, Maria, pensa que é filha do rei.

Ele, João, a trata mal.

Ela, Maria, o trata no mesmo gênero.

Mas ele, João, no fundo quer tratá-la bem.

E ela, Maria, quer ser tratada assim.

Dizem que ele, João, é um doce de pessoa

E ela, Maria, acredita.

Ele/Ela/Ele Parte IV

E agora, Maria?

Ah, Maria

Tantos são eles

Eles, João, José, Pedro, Paulo, Diego e Diogo.

Cada ele de um jeito

E todos eles do mesmo jeito.

E ela, Maria, sem saber de que jeito.

Ele, Paulo, merece destaque.

Ele olhava ela.

Ela olhava ele.

Agora muito mais de perto.

Agora ele, Paulo, estava dentro do olhar dela, Maria.

Agora ela, Maria, estava dentro do olhar dele, Paulo.

Mas ela, Maria, fechava os olhos e não sabia mais para quem olhava.

Porque ele, Paulo, estava perto demais dos olhos dela, Maria.

Mas ela gostava do olhar dele por perto. Perto demais.

Ele, Paulo, faz um som alto ao se aproximar dela.

Ela, Maria, pensa que são sinos badalando.

Ele, Paulo, tem a mão forte e firme.

Ela, Maria, gosta quando ele as coloca sob seus ombros.

Maria gosta de Paulo.

Paulo gosta de Maria.

Mas, e agora, Maria?

Ela gosta de todos eles, João, José, Pedro, Paulo, Diego e Diogo

E eles, João, José, Pedro, Paulo, Diego e Diogo gostam dela.

Mas gostam como, heim, João, José, Pedro, Paulo, Diego e Diogo?

E você, Maria?

E ele, Paulo?

Parece que ele, Paulo é especial.

E agora, Maria?



* * *

Mas ele, Diego, também é especial e merece um capítulo à parte.

Ele, Diego, é discreto demais

Ela, Maria também tenta ser,

Mas ela, Maria, na verdade não é.

Ele, Diego, tenta desgostar de Maria

Ele, Diego tem medo de Maria

Mas ele, Diego, sabe que não adianta fugir.

Ela, Maria, gosta de Diego.

Ela, Maria, tenta desgostar de Diego,

Porque ela, Maria, sabe que ele, Diego, tenta também.

Diego é um rapaz fugaz.

Maria é uma mulher feroz.

Ele, fugaz, escapa sempre pela tangente.

Ela, feroz, nunca gosta e se enfurece.

Ah, Maria

Assim é ele, Diego.

E agora, Maria?

Ele, Diego, sabe o sabor de Maria.

Ela, Maria, sabe o sabor de Diego.

Maria tem gosto bom, diz ele, Diego.

Diego tem gosto ótimo, diz ela, Maria.

Ela, Maria, gosta de Diego.

Ele, Diego, gosta de Maria.

Ela, Maria, gosta de todos eles, João, José, Pedro, Paulo, Diego e Diogo.

Todos eles, João, José, Pedro, Paulo, Diego e Diogo, gostam dela, Maria.

Mas gostam como, heim, João, José, Pedro, Paulo, Diego e Diogo?

Diego tem sabor especial.

E agora, Maria?

Ele/Ela/Ele Parte V

Ah, Maria...

Ela olhava ele, José.

Ele olhava ela, Maria.

Estava escuro, muito escuro.

Quase que ele, José, não reconheceu ela, Maria.

Mas ela, Maria, reconheceu ele, José, pelo jeito de andar.

Na penumbra.

Eles se cruzaram.

Ela, Maria quis falar com ele, José.

Ele, José, quis falar com ela, Maria.

Eles não se falaram

E seguiram.

Ela, Maria, pra lá.

Ele, José, pra cá.



**

Então, ele olhava ela.

Ele, João.

Ela, Maria.

Ele, José, já tinha ido.

João perguntou qual o nome dela, Maria.

Maria respondeu que era Maria.

Ele, João, disse que era nome fácil de decorar.

Ela, Maria, não disse, mas pensou que

Mais fácil que decorar seu nome, Maria,

Era decorar seu telefone.

Ah, Maria, Maria...

Verso Marcado - 27/02/2008

Pra mim, poema

É aquilo que me faz respirar,

Me faz dançar, me faz correr.



Pra mim, poema.

É o que me permite sonhar,

Me faz relembrar, me faz reviver.



É o que me faz sentir o vento no rosto.

É o que me faz sentir saudades.



Pra mim, poema

É o que me faz pensar,

Me deixa voar, me faz esquecer.



Pra mim, poema

É o que eu fecho os olhos,

Sinto o cheiro,

Ouço as palavras...



Ah, maldita caneta que me falta

Quando eu vejo o poema

Canto alto no meu coração

E escrevo você.



Pra mim, poema

Pra mim, você.

Coração de Botequim - 10/01/2008

E eu parei embaixo da sua janela.

Os segundo intermináveis

E eu lá, olhando.

Me senti no corredor da morte,

Mas estava apenas parada no semáforo que estava vermelho.

Vermelho-sangue.

Vermelho-coração.

Esse que já não faz mais o sangue pulsar vivo e feliz

Dentro dos metros de veias e artérias do meu corpo.

Esse que não é mais vermelho.

É meio assim, opaco.

Sem vida. Sem cor. Sem sal. Sem sabor.

Esse que hoje me permite apenas existir.

Pelo menos até o dia em que eu possa olhar de novo a sua janela,

Mas não para ela da calçada imunda,

E sim através dela do alto do seu andar.

Nem sei mais o quê - 02/01/2008

Daquele que nos embaralha a cabeça,

Que nos confunde as palavras,

Que enrola nossos pensamentos.



Um daquele tipo que nos faz sentir a mais linda quando acordamos,

A mais preciosa durante o dia,

E a essencial durante a noite.



Quero um daquele tipo que me arranque do meu cotidiano,

Que encerre meu expediente,

E que me faça sentir como se o mundo nunca mais fosse igual.



O que eu quero é um que me faça perder o sono madrugada adentro ao telefone,

Que me ponha a esperar horas a fio por um sinal de vida,

Aquele que me faça tremer ao toque do interfone.



O que eu espero é aquele que abraça na cama e segura a sua mão forte e trás para perto,

Um que me convença mais que um dia lindo de sol na praia,

O que mostre qual o caminho certo da minha casa.



Um que me enlouqueça, que me enfureça, que me atordoe o dia quando longe.

Um aperto no peito forte como um porre,

Como um grito estridente de metal.



Como se eu nunca mais fosse voltar à realidade,

Que me dê fome, que me tire a sede, que me alimente.

Que me tire as palavras, que me tire do mundo, que me dê a vida.



Um que deixe eu voltar a sentir aquele frio no estômago,

Aquela ânsia por amanhã,

Aquela vontade louca de viver todos os dias num só.



Que me deixe sem fôlego,

Que me leve para ver o mar, o lago, o campo, a floresta.

Tudo junto para somente poder voltar a sentir a vida por entre a minha vida.

Estação - 25/03/2008

Tem uma menina que diz que

“No outono é sempre igual, as folhas caem no final”,

Mas eu acho que ela está errada. O outono não é sempre igual.

O outono é sempre especial.

As folhas caem porque é o momento de renovação delas.

Renovar é sempre bom.

Renovar os ares, os amores, o cabelo, as roupas, a vida.

Renovar a cada acordar.

A luz do outono é especial. É densa.

O sol é forte, mas quase frio. Ilumina, mas não ofusca.

E o vento? Fresco e com a velocidade certa

Para fazer as cortinas voarem, e os cabelos saltarem ao ar.

Eu andava pela rua certa manhã de outono e mal olhava para o céu.

De repente, o vento. Fechei os olhos para senti-lo.

Muito boa aquela brisa, aquele sol, ao som daquele escocês.

Outono sempre traz aquele fim de tarde cor de laranja com rosa no céu.

Outono sempre traz vontade de renovar.

Outono sempre traz vontade de abraço, pra esquentar.

Outono sempre traz saudade. Deve ser pela nossa “troca de folhas que caem no final”.

Outono sempre traz vontade de voltar àquele lugar que eu sei que não vamos mais.

Outono sempre traz um friozinho que só aquele edredon pra aquecer.

Outono é arrepio na pele. Aconchego do lar. Sabor de chocolate.

Outono não é sempre igual.

Sentimentobeta - 21/03/2008

Ai, ai... essa droga de internet.

Não te ouço mais...

Só vejo suas palavras mal escritas no Messenger.

Não toco mais sua campainha,

Só ouço o bipar do seu SMS.

Carta? Não sei nem onde é a agência dos Correios mais próxima.

Basta lembrar a senha do Orkut e ler seu scrap.

Queria deitar e ouvir a nossa música ao seu lado,

Mas o máximo que consigo é compartilhar esse arquivo com você.

Meu sentimento por você é uma exceção na minha vida.

Mas o que importa?

Pra você pode ser essessão, eceção, exceção, seja lá o que for,

O corretor ortográfico do Word corrige. E dá sinônimos. E dá antônimos.

E não deixa você errar.

Você não consegue mais olhar em meus olhos e saber toda a verdade sobre mim,

Porque eu só mando emoticons.

Você não esquece mais meu aniversário

Porque o Outlook te lembra na hora que você escolheu.

Eu não lembro mais a textura dos seus cabelos

Mas só consigo lembrar do irritante barulho de quando me chama a atenção

No MSN.

No seu mural não tem uma foto nossa.

Elas estão no seu fotolog,

Ou no álbum ilimitado do Orkut.

Qual é mesmo a cor dos seus olhos?

A foto do Messenger é pequena e não consigo ver.

Isso quando não há um ridículo pato amarelo no lugar dela,

Ou uma bola de futebol.

E eu nem vou poder te dizer isso frente a frente,

Porque você já está lendo no meu blog.

Ai, ai.. essa tecnologia.

Nos aproxima tanto, tanto...

Mas até onde nos separa?

Não vou te dar um beijo de boa noite, deitar ao seu lado e dormir.

Vou te mandar um wink, fechar sua janela e fazer logoff.

Ah, esse meu coração 2.0

Está mesmo precisando de um upgrade,

Ou até de uma formatação.

Justificativa - 18/03/2008

Olá, querido.

Estranho receber esta carta, não? Cartas soam como despedida, como adeus, ou trazem novidades. Esta une tudo.

Sonhei que um amigo me ligou e disse que você havia partido de volta pra Dinamarca. “Ele foi embora. Voltou pra Dinamarca e voltará em dois meses”, disse ele.

Entrei em desespero e me questionava como você havia ido embora sem ao menos se despedir, fazer uma ligação. Dois meses seria uma eternidade.

Corri para o seu prédio, mas o porteiro me avisara que você já tinha partido. Arrisquei a porta na faculdade, mas você já havia dado suas aulas e era tarde demais.

O frio dentro de mim foi tanto que ultrapassou meu sonho, gelou meu corpo e congelou meus lençóis. Naquele momento meus olhos estavam pressionados fortemente para se manter fechados. Acordar seria não saber o que havia acontecido.

Lembro-me que você me ligou, disse que não era verdade e que não tinha voltado pra Dinamarca. Que estava ocupado com coisas de trabalho, mas que ainda estava perto de mim. Apenas duas quadras.

Acordei naquele domingo gelado, cheio de chuva, querendo ouvir sua voz rouca, mesmo distante. Não o fiz. Não te liguei. Queria-te perto. Tinha-te longe. Mas o que era melhor? Ou pior?

É ruim não saber quando vou poder sentir você em meu pescoço. Sua cabeça cansada no meu colo. Seu cabelo na minha mão. Sua vida na minha.

Minha vontade era te ligar naquele domingo feio e ir te encontrar, mas depois de um tempo achei melhor não ligar, não aparecer, e quem sabe fazer você desaparecer da minha vida. Pra quê?

A estrada ficou imensa, o caminho sem fim. Aquele domingo gelado terminou frio. Frio como na Dinamarca. Frio como eu gostaria de sentir você dentro de mim, mas tudo fervilha dentro do meu peito.

Agora penso se a melhor escolha não é te ter na Dinamarca. Se não é melhor não acordar daquele sonho ruim e pensar que longe é onde você está. Assim, tudo fica mais fácil e compreensível pra mim. Seria essa a solução pra nossa distância. É ruim esperar por você, rezar para o telefone tocar, ou para você me atender. Sonhar todas as noites com sua presença. Sentir falta do seu cheiro, do seu toque, do seu gosto.

Ruim saber que passamos a amar momentos que podem ser únicos e unitários, não? Por isso, estar com você sempre foi intenso. Agora intensifico esse momento com essa carta, ao menos não são momentos que vivemos, e sim letras escritas. Eternizo aqui minha vontade de te ter, mas não sei se perto ou longe. Endereço essa carta pra sua casa na Dinamarca porque é lá que eu espero que você esteja. Longe, longe do meu coração...

Um beijo,

Eu.