sábado, 13 de novembro de 2010

Fala

Diga o que pensa.
Diga o que sente.
Diz o que quiser.
Diga o que te faz sonhar.
Diga o que te move.
Diga o que te inspira.
Conta o que te dá fome,
Diga o que te apetece.
Diga o que te faz enlouquecer.
Diz o que te emociona.
Diga o que te dá sede,
Diga o que te faz doer.
Diga o que te dá palpitações,
Diga o que te faz chorar.
Diz o que te deixa triste.
Diz o que mais gosta de fazer.
Diz o que mais gosta de ver.
Diz o que mais gosta de ouvir.
Conta qual música é sua favorita.
Diga qual é a sua frase predileta.
Diga o que faz em sua folga.
Diga qual país mais gostou.
Diga pesadelo mais te assustou.
Diz qual sua maior saudade.
Diz qual sua melhor lembrança.
Diz qual foi sua mais animada festa.
Conta qual culpa ainda sente.
Conta qual sentimento mais te aflige.
Conta se ainda lembra da nossa pele junta.
Confessa que ainda pensa em mim.
Confessa que sente saudades.
Confessa que quer me ver agora.
Confessa e eu digo que quero o mesmo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Cinzas

Hoje tive que chamar o Corpo de Bombeiros,
A minha casa estava incendiando.
E o desespero não é ver queimando aquilo
Que o dinheiro compra,
Por mais que sejam objetos, móveis
E outras coisas que tenham valor sentimental.
O desespero é ver aquilo que não tem preço embaixo do fogo.
São memórias, lembranças
E recordações de momentos únicos,
Dias especiais, nascimento, aniversários,
Festas, noites inesquecíveis,
Anotações de conversas, retratos de situações determinantes,
Estava tudo queimando, virando cinzas.
O fogo fazia com que tudo que guardei
Com tanto carinho por tantos anos
Se transformasse em um pó horroroso e com cheiro ruim.
Eu tentava desesperadamente salvar tudo aquilo,
Não me preocupei com o edredon que tanto gosto,
Com as roupas que escolhi com tanto apreço,
Nem com os objetos de decoração, geladeira, fogão, mesas,
Televisões, copos de cristal, faqueiro de prata.
Eu não quis saber de nada,
Só de tudo aquilo que jamais poderia ter de volta.
Jamais algum prêmio da Mega Sena
Compraria aquelas coisas de volta.
Eu gritava desesperada, implorava por ajuda,
Esperava que alguém se arriscasse no meio daquele incêndio
Para me ajudar a salvar tudo de mais precioso
Que eu tinha na minha casa.
Ninguém me ouviu, ninguém me ajudou.
Meus vizinhos estavam viajando.
E eu assistia aquela cena horrorosa, tudo pegando fogo,
Tudo em situação de risco, de perigo,
Com uma sensação de perda misturada com desespero,
Uma vontade incontrolável de arrumar uma saída.
Quando os bombeiros chegaram não encontraram nada
Além de mim, completamente desesperada
Salvando cada lembrança, recordação, cada memória.
Tentando colocar tudo no bolso da roupa que eu vestia.
E para apagar aquele incêndio,
Aquele acidente, aquele fogaréu todo,
Os bombeiros me deram apenas um copo d´água.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Citação

"Para cada um de nós existe uma pessoa especial.
Muitas vezes existem duas, três ou mesmo quatro. Todos vem de gerações diferentes. Atravessam oceanos de tempo e profundidades celestiais para estarem conosco novamente. Vem do outro lado, do céu. Podem parecer diferentes mas nosso coração as reconhece. Há entre elas um laço eterno que nunca nos deixa só".


*tirado de um livro

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

1765

Eu tive meu último sonho com você.
De agora em diante, não preciso mais sonhar,
Não preciso mais pensar,
Só preciso deixar fluir.
Tive nosso último e decisivo sonho.
Eu vi a raiz de tudo, onde tudo começou.
Onde descobrimos que seria para sempre.
E esse sempre atravessa os anos, os séculos,
É muito antigo e válido para a eternidade.
...

Eu girava meu corpo e estava feliz,
Sozinha, contente, feliz.
Você se aproximou e eu parei de girar,
Fiquei centralizada, parada, uma estátua.
Deixei você fazer o que quisesse,
Deixei que eu fosse sua pelas suas mãos.
Não impedi nada, não relutei, não fui contra.
E você fez o que sempre quis.
Mas nosso amor era proibido,
Ninguém poderia saber que estivemos ali,
Embaixo daquela árvore, daquele jeito.
Como seguir adiante? Como contar?
Como viver isso?
Pois não vivemos. E não contamos para alguém.
É esse segredo que nos une até hoje.
...

Mas até quando?
Para sempre significa não ter uma data para terminar.
Estamos condenados um ao outro,
Concorde você ou não.
Eu nunca estive errada,
A não ser quando disse que optei por você.
Eu nunca optei por você.
A nossa história, o nosso passado
Me condenam a você,
E vice-versa.
Não adianta fugir,
Não adianta se fingir de morto,
Não adianta se calar,
Não adianta querer ser um fantasma.
Você é a alma de tudo que me acontece até hoje,
Você é o guia da linha da minha vida,
Você é tudo que faz sentido, que tem lógica.



A vida não nos deixa escapar.
A vida cobra alto o preço do “não-vivido”.
Os dias passados em branco têm juros altíssimos,
E sabe-se lá se no futuro teremos cacife para bancar,
Por isso o certo é viver hoje,
Sem olhar aquém.



Assim como não fui atrás de você quando
Você me largou embaixo daquela árvore,
Eu não vou atrás de você agora.
Meu sonho me esclareceu tudo,
E daqui em diante nada vai mudar mais,
Nada vai ser imprevisível,
Está tudo calculado,
Está tudo em ordem.
É só deixar fluir.
Só queria que você soubesse.



Você é tão antigo na minha vida
Que te levo na rotina como
Uma peça vintage da minha composição.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Canibal

Ele comeu meu coração.
Comeu meu coração com tudo o que tinha dentro.
Meus monstros e meus bicho de sete cabeças,
Antigos inquilinos do coração,
Bem que tentaram defender seu patrimônio, seu teto.
Voaram feito bestas,
No melhor estilo 'Garota Infernal'
Em seu pescoço,
Mas ele foi mais forte, mais violento,
E conseguiu comer meu coração.
Assim mesmo, feito pão com carne louca,
Ele devorou meu coração com vinagrete.
E a carne era louca.
Ele só providenciou o pão e o molho.

Ele comeu meu coração.
Mastigou pedaço a pedaço,
Colocou meu coração em um espeto
E assou no carvão em brasa.
Passou na farofa, na pimenta,
Feito um churrasco grego,
E comeu meu coração.
Tudo bem que a carne já estava torrada por ali,
Já era quase um pedaço de carvão,
Antes de virar o churrasco dele.

Ele comeu meu coração.
Maldito! Comeu meu coração!
Sem dó! E ainda palitou os dentes!
Saboreou a carne mal passada, ao ponto e bem passada.
Testou de todos os jeitos
O melhor gosto do meu pior.
Da próxima vez que ele vier com tanta fome
Sirvo meus pulmões feito um pudim de leite,
Cheio de açúcar queimado em cima.