Que lindo. Somos todos brasileiros. Somos todos “verde e amarelo” neste mês. O país está em festa. Habemus Copa do Mundo! A Seleção Brasileira estreou nesta terça-feira, 13 de junho, em Berlim. Mas esta terça-feira está mais para sexta-feira 13.
A ordem do dia foi liberar todos os funcionários do país às 14h para que todos esses brasileirinhos pudessem assistir o esquadrão de Parreira em campo. Foi o estouro da boiada na capital paulista. Uma multidão vestida pateticamente com as cores do Brasil saiu correndo de seus afazeres para se posicionarem diante da televisão.
O ônibus estava lotado. Muitos brasileirinhos correndo para não perderem um só minuto do espetáculo iminente. Todos no ônibus começaram a se irritar. Mas que trânsito era aquele?? Eram apenas duas horas da tarde e as ruas estavam paradas! E eu ali,ansiosa, afinal eu estava indo trabalhar, enquanto a maioria voltava de sua meia jornada de trabalho. O trânsito estava congelado. Por no mínimo quatro vezes quase desci do ônibus e terminei o trajeto a pé. Preciso trabalhar! Aliás o evento do meu trabalho é a Copa do Mundo! Só me restava esperar mais alguns minutos e ver no que vai dar esse congestionamento.
Ufa! Depois de 70 minutos saímos do sufoco! Entramos em uma rua que o movimento estava normal. “Graças a Deus! Mais 5 minutos e estarei a postos no meu trabalho. Não desgrudei os olhos da janela um só minuto. Quando me assustei e dei um grito. Todos olharam pela janela. Um senhor, de aproximadamente 70 anos de bicicleta tentou ultrapassar o ônibus que eu estava. Em vão. O motorista não conseguiu brecar e atropelou o velhinho. E o pior. Passou por cima dele com os pneus da frente. Já os traseiros pararam em cima das pernas do coitado. Ele estava pálido. Sem reação. Não soltou um mísero som.
De repente algumas pessoas gritam “Dá a ré”. E o motorista seguiu as instruções. Somente com essa atitude o senhor conseguiu sair de baixo do ônibus. Sem parte da calça, rasgada. A pele de sua perna tinha sido arrancada da virilha até o joelho. As fibras de seu músculo estavam à mostra. E ele? Pálido. Apático. Naquele momento perdi a força nas pernas. Amoleci. Só conseguia chorar de desespero.
Algumas pessoas na rua foram solidárias e tiraram suas camisas para cobrir a perna do velhinho. O chão foi tomado por sangue e para descer do ônibus tínhamos que pular a bicicleta amassada e o sapato da vítima. Não sabia se ajudava ou se saia correndo. Uma ambulância chegar ali em poucos minutos era uma missão impossível, bem mais impossível que o filme. O pior acontecia com aquela pessoa, que também corria para algum lugar para declarar sua paixão pelo país.
Resolvi sair dali. Estava com ânsia de ver aquele corpo mutilado. Corri para o meu trabalho a pé. Chorava muito. As pessoas não entendiam. Lógico! Estavam todos fantasiados de brasileiros. Era dia de festa, minha gente! E alguém morria, logo ali. Tenho certeza de que se uma ambulância não chegasse a tempo, ou seja, em pouquíssimos minutos, aquele brasileirinho com seus 70 anos de “brasileirisses” não suportaria a dor e a hemorragia. É triste!
Revoltei-me em ver todos na rua. Cadê o patriotismo?E nas eleições? Costumamos vendo brasileirinhos fazendo “brasileirisses” nas urnas?
É óbvio e notório que vivemos em um país cheio de corrupção. Algo tem que ser feito. Mas nessas horas penso que os brasileiros são burros mesmo e devem morrer nas mãos de políticos ordinários. Porque somos todos ordinários. O país calou-se, como no dia em que o PCC ditou as ordens da casa. Somos submissos a um bando de ladrões fantasiados de Armani, Gucci e Ricardo Almeida no Palácio do Planalto. Todos os dias. Quer dizer, alguns dias da semana,porque trabalhar de segunda a sexta é coisa do proletariado.
O dia foi muito triste.
Não sei o que aconteceu com aquele senhor.Não sei se ele sobreviveu à dor, ao sangramento e ao desespero de ver um caos na sua frente impedindo seu socorro. Só sei que independente de quem ele seja, de quantos filhos e netos ele tenha,de quantas árvores ele plantou, ele não merecia.
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