Hoje acordei com saudades de comer miolo de pão.
Fui até a padaria, comprei vinte pães
E voltei comendo todos os miolos para casa.
Coloquei aquele saco de pães furados em cima da mesa
E nada aconteceu.
Ainda restavam alguns e fui comendo os miolos aos poucos.
Comia um, esperava. Nada acontecia.
Comia outro, esperava. Nada acontecia.
Comia mais outro, esperava. Absolutamente nada.
Quando eu era criança
Implorava para minha mãe deixar-me ir
Até a padaria.
Com o sim dela, descia correndo até a garagem,
Junto de outras amigas,
Tirava a minha bicicleta rosa do suporte
E pedalava aqueles imensos
Dois quarteirões.
Comprava os pães,
Apoiava-os na cestinha da bicicleta,
Voltava para a garagem,
Pendurava a bicicleta,
Apertava o 8º andar
E chegava em casa.
Chegava em casa com os pães furados, obviamente.
Sem miolos, vazios, ocos.
Deixava o saco de pães em cima da mesa
E esperava meu pai chegar em casa
E abrir o pacote.
Assim que ele pegava o primeiro pão furado
Ele dizia
“Nossa, tem ratinhos aqui em casa comendo nossos miolos!”
Eu ria atrás da porta e depois de fantasiar muito,
Me confessava.
Sempre achava que ele ficaria bravo com os pães ocos,
Mas mesmo sem toda a parte boa do pão
Meu pai fazia piada e nos fazia rir.
Hoje, comi vinte miolos de pão.
Devorei pedaço a pedaço,
Coloquei o saco de pães ocos em cima da mesa
E nada aconteceu.
Talvez hoje em dia os ratos tenham sido espantados
Com os gatos que rondam a vizinhança.
As lembranças sempre nos faz viajar...
ResponderExcluirViajar para um passado, as vezes distante, as vezes não tão distante assim...
Seu texto me fez lembrar de como era bom ser criança, não ter as responsabilidades e os compromissos que a vida nos implica quando atingimos o "status" de adulto!
Seu texto me permitiu viajar, muito bom e eu como sempre recomendo a leitura!
Parabéns Lilian por mais um belíssimo texto.
Seu Fã